
Durante a exibição do filme fiquei pensando na opinião do ator e cheguei na conclusão pessoal de que ele estava certo apenas em termos. Realmente o ator está muito jovem, até inexperiente, para recitar Shakespeare. Atores ingleses obviamente se saem melhor nesse aspecto. Porém é impossível não reconhecer seu talento em duas grandes cenas do filme. A primeira ocorre quando Marco Antônio (Brando) encontra o corpo esfaqueado de César no senado. Se nos primeiros minutos de filme ele está em segundo plano aqui nesse momento assume posição de destaque no desenrolar dos acontecimentos. A segunda grande cena do ator no filme surge depois quando ele discursa para a multidão. Levando o corpo de César nos braços ele joga com as palavras de forma maravilhosa. Essa segunda cena é seguramente um dos maiores momentos de Brando no cinema. Esqueça seus famosos resmungos, aqui ele surge com uma dicção perfeita e uma oratória ímpar (mostrando que sua passagem pelo Actors Studio não foi em vão). Com pleno domínio ele instiga o povo contra os senadores que mataram César. Brando está perfeito no discurso, em um momento realmente de arrepiar.
Sobre o segundo aspecto realmente devo dar razão à opinião do ator. O público americano provavelmente estranhou a forma do filme. A cultura americana (e a nossa, diga-se de passagem) não abre muitas brechas para um texto tão bem escrito e profundo como esse. Os diálogos são declamados com grande eloqüência, por maravilhosos atores. O texto obviamente é riquíssimo em todos os sentidos e ao final de cada grande diálogo o espectador mais atento certamente ficará impressionado pela grandeza que a palavra escrita alcançava nas mãos de Shakespeare. Por se tratar de tão culto autor o filme exige uma certa erudição do público.
O espectador deve entender principalmente o contexto histórico do que se passa na tela (o fim da República Romana e o surgimento do Império). Deve também entender que Brutus (brilhantemente interpretado por James Mason) não é um vilão em cena mas sim um cidadão romano que acreditava no sistema político de então. Aliás é bom frisar que o tempo acabaria de certa forma dando razão a ele e aos senadores que mataram César. Os ideais republicanos de Roma tiveram muito mais influência nos séculos seguintes do que o arcaico e corrupto sistema que foi implantado pelos imperadores que iriam suceder César no poder. O legado do Império acabou mas as fundações do republicanismo que tanto foram defendidas por Brutus seguem firme até os dias de hoje. Enfim, Júlio César é um excelente filme, uma aula de cultura em todos os aspectos. Brando não está menos do que magnífico, apesar de ter ficado inseguro no resultado final. Em tempos de sub-cultura que vivemos “Júlio César” é não menos do que obrigatório
Júlio César (Julius Caesar, Estados Unidos, 1953) Diretor: Joseph L. Mankiewicz / Roteiro: Joseph L. Mankiewicz baseado na obra de William Shakespeare / Elenco: Marlon Brando, James Mason, John Gielgud, Deborah Kerr, Alan Napier./ Sinopse: Júlio César (Louis Calhern) é um habilitoso político e general romano que é assassinado no senado nos idos de março. Após sua morte duas facções se formam, os que querem a morte dos assassinos liderados por Marco Antônio (Marlon Brando) e Otáviano e os que comemoram sua morte liderados por Brutus (James Mason) e Cícero (Alan Napier). O palco da guerra civil está armado.
Pablo Aluísio.
Cinema Clássico
ResponderExcluirPablo Aluísio.
Bom Pablo, quero citar duas coisas:
ResponderExcluir1-Quando falarmos do assassinato do Julio César, o verdadeiro protagonista é sem dúvida o Marco Antônio que não só dicursa ferozmente contra os assasinos, como instiga e convence o Octaviano a persegui-los e elimina-los a todos. Então o Marlon Brando a partir do assassinato do Julio Cesar assume o protagonismo moral do filme e assim sendo e peso para um jovem ator devia ser enorme, mesmo para um gênio como Marlon Brando.
2- Usar uma linguagem shakespeariana num filme nao é correto, pois a lingua é dinâmica e aquele idioma do Shakespeare que parece rebuscado hoje, era a lingua do dia a dia na época em que foi escrito. Você ja viu a carta original do Pero Vaz Caminha enviada ao Rei em 1500 falando do descobrimento do Brasil? É ininteligível.
Então a estória do Shakespeare deve ser mantida na sua integridade, mas a linguagem, a forma de falar, precisa ser atualizada pra se tornar palatavel ao público de hoje em dia.
O Marlon Brando era jovem demais quando fez esse filme. Segundo suas próprias palavras ele sentiu, durante as fimagens, sua falta de experiência maior com esse tipo de material. Não podemos nos esquecer também que ele era um cara comum do meio oeste, enquanto os que estavam contracenando com ele nesse filme vinham de escolas teatrais shakesperianas inglesas. Foi muito complicado para ele na época.
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