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segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Hollywood Boulevard - Marlon Brando - Texto I

Quando estava na Big Apple seu passatempo preferido era cruzar as longas avenidas da cidade, naquele período histórico quase deserta. Isso porque, como Brando bem explicou, a imensa maioria dos homens americanos estavam servindo no exterior, na Segunda Guerra Mundial, O ator assim era um dos poucos de sua idade que tinham ficado para trás já que havia sido dispensado do serviço militar após quebrar seu joelho em um jogo de futebol na escola. Sobre a vida de motoqueiro naqueles tempos pioneiros o ator relembrou alguns macetes para ser um autêntico rebelde. 

Uma delas era encher o casaco de jornais para evitar o frio intenso do inverno da cidade. Outra dica era procurar por sinais escritos no chão por giz, onde outros motoqueiros deixavam mensagens que apenas outros motoqueiros conseguiriam entender. Uma seta poderia indicar que ali havia restaurantes com comidas baratas e boas ou então que a vizinhança era perigosa no período noturno. Curiosamente Brando adorava passar as noites dirigindo por Nova Iorque. Muitas vezes preferia dormir nas praças ou no Central Park. Encostava sua máquina e ia tirar um cochilo. Nova Iorque nas décadas de 1940 e 1950 era considerada extremamente segura e o ator não tinha receios de dormir ao ar livre, sem problemas.

Isso sem esquecer as mulheres, sim as mulheres. Havia milhares delas pela cidade, todas sozinhas pois seus homens estavam na guerra. Para Brando não importava muito que fossem casadas ou comprometidas. Se estivessem dispostas a uma noite de aventuras ele certamente também estaria disposto. O ator adorava mulheres negras ou exóticas - ou como os americanos gostam de chamar, mulheres étnicas, latinas, orientais ou estrangeiras em geral. Não raro o ator conhecia uma mulher dessas durante a tarde e ia passar a noite ao seu lado. 

Algumas vezes as coisas não corriam muito bem, como naquela ocasião em que um dos soldados retornou à Nova Iorque bem na noite em que Brando desfrutava a companhia de sua esposa. Brando estava na cama com sua amante quando bateram na porta. Parecia um gigante dando murros na parede. Brando deu um pulo e descobriu que o sujeito era um homem com dois metros de altura, acostumado a virar carros com os próprios punhos. O jeito foi sair de mansinho pelas escadas de incêndio. Coisas de um jovem rebelde nos anos mais aventurescos de sua vida. Afinal de contas ser um rebelde selvagem não era coisa para qualquer um.

Pablo Aluísio.

domingo, 1 de junho de 2025

Júlio César

Em sua autobiografia Marlon Brando tirou duas conclusões sobre o filme “Júlio César”. A primeira foi que ele era ainda muito jovem e inexperiente para assumir um papel tão complexo em um texto tão rico (e muito fiel ao original escrito por William Shakespeare). O ator ficou inseguro durante as filmagens, também pudera, rodeado de monstros da arte de interpretação, Brando teve que se esforçar muito mais do que o habitual para não só decorar o rebuscado texto como também compreender o que ele significava. A segunda conclusão que Brando chegou é a de que filmes assim não encontram muita recepção e ressonância entre a cultura americana que em essência é a cultura do chiclete e da Coca-Cola, uma cultura que nem chega perto da milenar cultura europeia do qual provém essa maravilhosa peça.

Durante a exibição do filme fiquei pensando na opinião do ator e cheguei na conclusão pessoal de que ele estava certo apenas em termos. Realmente o ator está muito jovem, até inexperiente, para recitar Shakespeare. Atores ingleses obviamente se saem melhor nesse aspecto. Porém é impossível não reconhecer seu talento em duas grandes cenas do filme. A primeira ocorre quando Marco Antônio (Brando) encontra o corpo esfaqueado de César no senado. Se nos primeiros minutos de filme ele está em segundo plano aqui nesse momento assume posição de destaque no desenrolar dos acontecimentos. A segunda grande cena do ator no filme surge depois quando ele discursa para a multidão. Levando o corpo de César nos braços ele joga com as palavras de forma maravilhosa. Essa segunda cena é seguramente um dos maiores momentos de Brando no cinema. Esqueça seus famosos resmungos, aqui ele surge com uma dicção perfeita e uma oratória ímpar (mostrando que sua passagem pelo Actors Studio não foi em vão). Com pleno domínio ele instiga o povo contra os senadores que mataram César. Brando está perfeito no discurso, em um momento realmente de arrepiar.

Sobre o segundo aspecto realmente devo dar razão à opinião do ator. O público americano provavelmente estranhou a forma do filme. A cultura americana (e a nossa, diga-se de passagem) não abre muitas brechas para um texto tão bem escrito e profundo como esse. Os diálogos são declamados com grande eloqüência, por maravilhosos atores. O texto obviamente é riquíssimo em todos os sentidos e ao final de cada grande diálogo o espectador mais atento certamente ficará impressionado pela grandeza que a palavra escrita alcançava nas mãos de Shakespeare. Por se tratar de tão culto autor o filme exige uma certa erudição do público.

O espectador deve entender principalmente o contexto histórico do que se passa na tela (o fim da República Romana e o surgimento do Império). Deve também entender que Brutus (brilhantemente interpretado por James Mason) não é um vilão em cena mas sim um cidadão romano que acreditava no sistema político de então. Aliás é bom frisar que o tempo acabaria de certa forma dando razão a ele e aos senadores que mataram César. Os ideais republicanos de Roma tiveram muito mais influência nos séculos seguintes do que o arcaico e corrupto sistema que foi implantado pelos imperadores que iriam suceder César no poder. O legado do Império acabou mas as fundações do republicanismo que tanto foram defendidas por Brutus seguem firme até os dias de hoje. Enfim, Júlio César é um excelente filme, uma aula de cultura em todos os aspectos. Brando não está menos do que magnífico, apesar de ter ficado inseguro no resultado final. Em tempos de sub-cultura que vivemos “Júlio César” é não menos do que obrigatório

Júlio César (Julius Caesar, Estados Unidos, 1953) Diretor: Joseph L. Mankiewicz / Roteiro: Joseph L. Mankiewicz baseado na obra de William Shakespeare / Elenco: Marlon Brando, James Mason, John Gielgud, Deborah Kerr, Alan Napier./ Sinopse: Júlio César (Louis Calhern) é um habilitoso político e general romano que é assassinado no senado nos idos de março. Após sua morte duas facções se formam, os que querem a morte dos assassinos liderados por Marco Antônio (Marlon Brando) e Otáviano e os que comemoram sua morte liderados por Brutus (James Mason) e Cícero (Alan Napier). O palco da guerra civil está armado.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 1 de maio de 2025

Uma Rua Chamada Pecado

Passados mais de sessenta anos, o longa "Uma Rua Chamada Pecado" (A Streetcar Named Desire - 1951) ainda mantém no ar e intactos, alguns dos sentimentos mais básicos e primários do Homem: sexo, violência e desejo. Mesmo na época de seu lançamento, e a pedido da Warner - que se via pressionada pela censura - o filme sofreu cortes generosos, para desespero de seu diretor, Elia Kazan, que lutou até o fim para que sua obra-prima não sofresse os cortes já determinados pelos "abutres da censura". Não teve jeito, Kazan foi derrotado. Durante muitos anos (até 1993), o filme foi exibido e comercializado com cinco minutos a menos que faziam total diferença no conjunto da obra. No Brasil não foi diferente. O que poderia ser literalmente traduzido para o português, como: "Um Bonde Chamado Desejo", de repente transformou-se em, "Uma Rua Chamada Pecado". Ou seja: a censura não via com bons olhos a palavra DESEJO. Realmente inacreditável, além de lamentável.

Baseado na obra premiada do dramaturgo americano Thomas Lanier Williams ou simplesmente, Tennessee Williams, a obra trata de um redemoinho alucinante de sentimentos. Tudo começa quando Blanche Du Bois (Vivien Leigh), uma professorinha de alma delicada e decadente do Mississipi, vai passar alguns dias com sua irmã Stella (Kim Hunter), e o cunhado Stanley Kowalski (Marlon Brando) em Nova Orleans. Frágil e sedutora, seu comportamento contrasta com os modos rudes e animalescos de Kowalski. A visita de poucos dias parece não ter mais fim, pois o esforço de Blanche, forçando uma convivência pacífica, irrita profundamente Kowalski que aos poucos vai se transformando numa fera. O pequeno apartamento parece ficar menor a cada minuto, sufocante, claustrofóbico. Uma panela de pressão a ponto de explodir. É justamente toda essa atmosfera, que pôs Marlon Brando em evidência para o mundo. Mal ele podia imaginar que sua atuação como Stanley Kowalski, o tornaria uma espécie de marco fundamental. Um divisor de águas entre o cinema pré e pós Marlon Brando. Ou seja: o cinema, mas, principalmente, os atores que vieram posteriormente, não seriam mais os mesmos.

A influência dos chamados "monstros sagrados" do Actor's Studios, entraria como um vírus, para sempre em suas veias. Brando, na pele do animalesco Kowalski, consegue manifestar toda a sua capacidade interpretativa e criativa. Numa completa desambiguidade o organismo Brando-Kowalski é um corpo incandescente que se move lentamente, com olhos injetados de um animal, transpirando suor, ódio e testosterona, quase sempre na mesma medida. Em uma leitura personalíssima e explosiva da obra, Brando se entrega de corpo e alma a um personagem de maldade e furor acachapantes. Sua atuação majestosa é o que Roland Barthes chamava de "quantificação da qualidade" - "pouco interessa o que se fala, o que interessa mesmo é o suor, o grito, o medo e o ódio". Parece que Uma Rua Chamada Pecado foi feita na medida certa para transformar-se depois num réquiem eterno para o genial Marlon Brando. Nota 10.

Uma Rua Chamada Pecado (A Streetcar Named Desire, EUA, 1951) Direção: Elia Kazan / Roteiro: Oscar Saul baseado na peça de Tennessee Williams / Elenco: Vivien Leigh, Marlon Brando, Kim Hunter,Karl Malden / Sinopse: Blanche (Vivien Leigh) uma problemática mulher resolve ir visitar sua irmã Stella (Kim Hunter) em New Orleans. Lá conhece Stanley (Marlon Brando) o rude e provocativo cunhado. Não tarda a se instalar um clima de tensão entre todos os moradores daquele pequeno apartamento.

Telmo Vilela Jr.

sábado, 1 de março de 2025

Espíritos Indômitos

Título no Brasil: Espíritos Indômitos
Título Original: The Men
Ano de Produção: 1950
País: Estados Unidos
Estúdio: United Artists
Direção: Fred Zinnemann
Roteiro: Carl Foreman
Elenco: Marlon Brando, Teresa Wright, Everett Sloane, Jack Webb, Richard Erdman, Arthur Jurado

Sinopse:
Ken Wilocek (Marlon Brando) é um jovem americano que se alista no exército dos Estados Unidos. Uma vez no front é seriamente ferido com um tiro. Quando é tratado descobre a terrível realidade, pois o tiro fez com que perdesse os movimentos de sua pernas. Nessa nova condição tenta recomeçar sua vida, apesar de todas as dificuldades físicas e psicológicas que precisará enfrentar. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor roteiro (Carl Foreman).

Comentários:
Esse foi o primeiro filme da carreira do ator Marlon Brando no cinema. E sua estreia se deu em grande estilo. Dirigido pelo ótimo cineasta Fred Zinnemann, o personagem de Brando dava voz a milhares de de veteranos que iam para a guerra e voltavam para sua pátria com problemas físicos graves. Alguns ficavam presos em cadeiras de rodas pelo resto de suas vidas. Era sem dúvida um tema muito humano, importante e relevante, em uma época em que Hollywood retratava os soldados apenas como heróis de guerra em filmes que muitas vezes fantasiava o que acontecia de verdade em um campo de batalha. E muitos desses homens que voltavam com sequelas eram abandonados pelo próprio governo e pelo exército. Brando, que sempre teve grande sensibilidade social, conviveu e contracenou com veteranos reais, que estavam vivendo em cadeiras de rodas. Uma experiência que o marcou por toda a vida. E o filme em si é considerado até hoje uma obra-prima da sétima arte. Um retrato visceral dos danos que uma guerra poderia causar em jovens com toda uma vida pela frente, agora limitados por ferimentos de combate.

Pablo Aluísio.