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segunda-feira, 2 de junho de 2025

Uma Rua Chamada Pecado

Passados mais de sessenta anos, o longa "Uma Rua Chamada Pecado" (A Streetcar Named Desire - 1951) ainda mantém no ar e intactos, alguns dos sentimentos mais básicos e primários do Homem: sexo, violência e desejo. Mesmo na época de seu lançamento, e a pedido da Warner - que se via pressionada pela censura - o filme sofreu cortes generosos, para desespero de seu diretor, Elia Kazan, que lutou até o fim para que sua obra-prima não sofresse os cortes já determinados pelos "abutres da censura". Não teve jeito, Kazan foi derrotado. Durante muitos anos (até 1993), o filme foi exibido e comercializado com cinco minutos a menos que faziam total diferença no conjunto da obra. No Brasil não foi diferente. O que poderia ser literalmente traduzido para o português, como: "Um Bonde Chamado Desejo", de repente transformou-se em, "Uma Rua Chamada Pecado". Ou seja: a censura não via com bons olhos a palavra DESEJO. Realmente inacreditável, além de lamentável.

Baseado na obra premiada do dramaturgo americano Thomas Lanier Williams ou simplesmente, Tennessee Williams, a obra trata de um redemoinho alucinante de sentimentos. Tudo começa quando Blanche Du Bois (Vivien Leigh), uma professorinha de alma delicada e decadente do Mississipi, vai passar alguns dias com sua irmã Stella (Kim Hunter), e o cunhado Stanley Kowalski (Marlon Brando) em Nova Orleans. Frágil e sedutora, seu comportamento contrasta com os modos rudes e animalescos de Kowalski. A visita de poucos dias parece não ter mais fim, pois o esforço de Blanche, forçando uma convivência pacífica, irrita profundamente Kowalski que aos poucos vai se transformando numa fera. O pequeno apartamento parece ficar menor a cada minuto, sufocante, claustrofóbico. Uma panela de pressão a ponto de explodir. É justamente toda essa atmosfera, que pôs Marlon Brando em evidência para o mundo. Mal ele podia imaginar que sua atuação como Stanley Kowalski, o tornaria uma espécie de marco fundamental. Um divisor de águas entre o cinema pré e pós Marlon Brando. Ou seja: o cinema, mas, principalmente, os atores que vieram posteriormente, não seriam mais os mesmos.

A influência dos chamados "monstros sagrados" do Actor's Studios, entraria como um vírus, para sempre em suas veias. Brando, na pele do animalesco Kowalski, consegue manifestar toda a sua capacidade interpretativa e criativa. Numa completa desambiguidade o organismo Brando-Kowalski é um corpo incandescente que se move lentamente, com olhos injetados de um animal, transpirando suor, ódio e testosterona, quase sempre na mesma medida. Em uma leitura personalíssima e explosiva da obra, Brando se entrega de corpo e alma a um personagem de maldade e furor acachapantes. Sua atuação majestosa é o que Roland Barthes chamava de "quantificação da qualidade" - "pouco interessa o que se fala, o que interessa mesmo é o suor, o grito, o medo e o ódio". Parece que Uma Rua Chamada Pecado foi feita na medida certa para transformar-se depois num réquiem eterno para o genial Marlon Brando. Nota 10.

Uma Rua Chamada Pecado (A Streetcar Named Desire, EUA, 1951) Direção: Elia Kazan / Roteiro: Oscar Saul baseado na peça de Tennessee Williams / Elenco: Vivien Leigh, Marlon Brando, Kim Hunter,Karl Malden / Sinopse: Blanche (Vivien Leigh) uma problemática mulher resolve ir visitar sua irmã Stella (Kim Hunter) em New Orleans. Lá conhece Stanley (Marlon Brando) o rude e provocativo cunhado. Não tarda a se instalar um clima de tensão entre todos os moradores daquele pequeno apartamento.

Telmo Vilela Jr.

segunda-feira, 24 de março de 2025

Vidas Amargas

Pode ser considerado o primeiro filme de James Dean, mesmo ele tendo aparecido em pequenas participações em três filmes anteriores. Esse é o primeiro filme em que ele realmente teve a oportunidade de mostrar seu talento como ator. Nos filmes anteriores ele tinha poucas linhas de diálogos e em alguns deles era um mero figurante. Porém em "Vidas Amargas" o diretor Elia Kazan resolveu apostar naquele jovem ator de Indiana, dando a maior oportunidade de sua carreira até então. E Dean não decepcionou, atuando de forma brilhante em seu papel, a de um jovem com problemas familiares que ousava trazer à tona um segredo sobre sua mãe que poderia destruir sua família.

O roteiro foi baseado no best-seller escrito pelo autor John Steinbeck. Entretanto Kazan decidiu que só iria explorar a parte inicial da história contada no livro. Ele acreditava que a força dramática do livro se concentrava justamente em seus primeiros capítulos. Não interessava ao cineasta o desenrolar daqueles primeiros acontecimentos. E assim foi feito. O resultado ficou excepcional. Aliás é interessante notar como James Dean já encarnava nesse seu primeiro grande papel a figura do jovem rebelde, encucado e confuso, que não era bem visto nem mesmo por seu pai, um tipo conservador indigesto, que a despeito de ser um homem duro com os filhos, usava tudo como mera desculpa para torturar psicologicamente o filho de que não gostava, justamente o personagem de Dean. Em conclusão, "Vidas Amargas" é uma obra-prima da sétima arte. Grande filme  de James Dean e Elia Kazan, em momento inspirado de suas carreiras.

Vidas Amargas (East of Eden, Estados Unidos, 1955) Direção: Elia Kazan / Roteiro: Paul Osborn, Elia Kazan, inspirados no livro escrito por John Steinbeck / Elenco: James Dean, Raymond Massey, Julie Harris, Burl Ives, Richard Davalos, Jo Van Fleet / Sinopse: Nas vésperas da explosão da I Guerra Mundial, um jovem chamado Cal Trask (James Dean) descobre um grande segredo envolvendo o passado de sua família. E ele não deixará isso passar em branco, usando tudo para atingir seu rígido pai e seu irmão, considerado um jovem modelo na cidade onde vive. Filme vencedor do Oscar na categoria de melhor atriz coadjuvante (Jo Van Fleet). Também indicado nas categorias de melhor ator (James Dean), melhor direção (Elia Kazan) e melhor roteiro adaptado.

Pablo Aluísio.