domingo, 31 de agosto de 2025

El Cid

El Cid segue sendo um grande filme épico medieval. Mais um ponto alto na carreira do ator Charlton Heston. Logo ele, um dos mais bem sucedidos atores de todos os tempos nesse estilo cinematográfico. Basta lembrar de clássicos absolutos como "Ben-Hur" e "Os Dez Mandamentos". De fato bastaria apenas esses dois filmes para colocar Heston entre os grandes nomes da era de ouro de Hollywood. Porém ele foi além, estrelando também outros grandes filmes. El Cid é certamente um dos melhores deles. É uma grande produção. O filme não economizou nos custos. Há uma infinidade de figurantes, batalhas épicas e exércitos. Na época nada disso poderia ser feito de forma digital como se faz hoje em dia, assim tudo o que se vê na tela é real e até hoje impressiona, principalmente na batalha final travada nas praias do castelo de Valença. O Produtor Samuel Bronston tinha fama de não economizar nos custos de seus filmes. Assistindo El Cid entendemos bem a razão dessa sua fama.

O filme conta a história desse personagem histórico ainda hoje muito conhecido, o guerreiro e cavaleiro El Cid, venerado em alguns países europeus como um dos grandes heróis da história. Essa visão é meio distorcida. O roteiro de El Cid segue esse erro pois é pouco correto do ponto de vista histórico. No filme o cavaleiro é visto como um homem de atitudes grandiosas, nobres. O fato porém é que El Cid era algo que hoje em dia poderia ser definido facilmente como mercenário, ou seja, após ser exilado ele colocava seu exército particular à disposição de quem lhe pagasse mais, sejam cristãos ou mouros. Outro fato que foge da realidade histórica se refere à própria morte de El Cid. No filme seu final vai de encontro ao famoso poema medieval que o enobrecia como símbolo de virtude. Na história real sua morte foi bem mais banal e comum pois faleceu em seu castelo e não em luta de forma heroica como mostrada no filme.

A direção do filme ficou em boas mãos. Anthony Mann dirigiu grandes filmes ao longo de sua carreira, inclusive "Winchester 73" (western com excelente elenco, contando com Rock Hudson e James Stewart), "A Queda do Império Romano". "Cimarron" entre outros. Definitivamente "El Cid" foi o filme mais caro que se envolveu. As filmagens ocorreram na Espanha e Itália com equipe estrangeira e não deve ter sido nada fácil organizar e dirigir uma produção desse nível. Mesmo assim o resultado grandioso ficou muito bom, embora se perceba vários "vácuos" no filme, isso apesar dele ter mais de três horas de duração. A impressão que tive foi que o diretor se perdeu um pouco no corte ideal para o filme, pois há sequências enormes e desnecessárias, como o longo romance entre os personagens do casal Heston e Loren. Já outros personagens importantes na história não mereceram a mesma atenção. Como diretor ele deveria ter feito um filme mais enxuto e focado na minha opinião.

Outros problemas podem ser encontrados ao longo do filme. O romance entre Charlton Heston e Sophia Loren, por exemplo, não decola no filme. Na minha opinião o problema é a falta de talento da bela atriz. Sophia Loren tinha exageros de caracterização, cacoetes que ela trazia do cinema italiano e isso nem sempre funcionava bem. Heston, por sua vez, repete suas atuações de personagens épicos, que são virtuosos e acima do bem e do mal. Os atores que interpretam os dois reis em conflito (na realidade eram quatro) são fracos, em especial John Fraser que interpreta o Rei Alfonso. Muito afetado, ficou mais parecendo uma versão medieval de Calígula. Mesmo assim, com esse pequenos problemas em detalhes, não há como negar as qualidades cinematográficas dessa obra.

El Cid (El Cid, Estados Unidos, Itália, 1962) Direção: Anthony Mann / Roteiro: Fredric M. Frank, Philip Yordan / Elenco: Charlton Heston, Sophia Loren, Raf Vallone / Sinopse: Épico que narra a história do guerreiro medieval El Cid que lutou contra as invasões mouras na Península Ibérica durante a alta idade média. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Direção de Arte, Melhor Trilha Sonora Original e Melhor Música (Miklós Rózsa). Indicado no Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme - Drama, Melhor Direção e Melhor Trilha Sonora Original (Miklós Rózsa).

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

As Sandálias do Pescador

As Sandálias do Pescador
O filme “As Sandálias do Pescador” foi baseado no best-seller de Morris L. West, um dos romancistas mais prestigiados do mundo. Em plena guerra fria, o enredo mesclava política e religião com muita maestria. A trama do filme era pura ficção, mas com nuances baseados em fatos históricos reais. No enredo o protagonista se chama Kiril Lakota (Anthony Quinn), Ele é um cardeal russo que acaba sendo libertado após muita pressão internacional contra o governo comunista da União Soviética. Exilado, ele volta ao Vaticano onde por uma ironia do destino acaba fazendo parte do conclave para a escolha do novo Papa. Como se não bastasse a surpresa de retornar a Roma nesse momento particularmente delicado, acaba ainda por cima sendo eleito o novo Papa pelos cardeais, que cansados das lutas internas dentro da cúria romana decidem eleger alguém de fora para assumir o poder máximo da Igreja Católica no mundo!

A história parece familiar para você? Pois é, incrivelmente parecida mesmo com a história do Papa João Paulo II, que também foi eleito após escapar do regime comunista na Polônia. Nesse ponto o autor Morris West foi incrivelmente perspicaz pois os eventos narrados em seu livro acabaram de certa forma se tornando reais dez anos depois com a escolha de Karol Wojtyla para o trono do pescador. É incrível pensar que ele havia previsto uma década antes que um novo Papa viria de um país dominado pelo comunismo. Era algo impensado na época, justamente por causa da guerra fria que parecia não ter fim. A eleição de um Papa proveniente de um país socialista seria algo não apenas inédito, mas também explosivo do ponto de vista da política internacional. Em meio a tensão, ter um Papa com essas origens iria deixar o cenário ainda mais turbulento e tenso entre Estados Unidos e União Soviética.

“As Sandálias do Pescador” é nitidamente dividido em dois atos. O primeiro que antecede a subida ao trono de São Pedro e o segundo que já mostra o protagonista como o novo Papa eleito. A produção é das mais ricas, com tudo sendo recriado a perfeição em seus menores detalhes. Todos os rituais, liturgias e cerimônias são refeitas com extremo rigor e fidelidade histórica. O elenco é fabuloso. Além de Anthony Quinn como o russo que vira Papa o filme ainda conta com as preciosas atuações de Laurence Olivier (como o premie soviético) e Vittorio de Sica como o Cardeal Rinaldi. Outro ponto positivo é a recriação das intrigas e conspirações palacianas, tão comuns em escolhas de Papas ao longo da história. Embora o filme decaia um pouco em seus momentos finais, o fato é que “As Sandálias do Pescador” é um marco do cinema da década de 60. Uma produção de encher os olhos com um elenco realmente maravilhoso. Em tempos de conclaves, eleições de Papas e tudo mais “As Sandálias do Pescador” se torna ainda mais interessante. Assistindo ao filme você irá perceber que pouco coisa mudou em todos esses anos. Os corredores do Vaticano e seus segredos milenares continuam os mesmos, seja na ficção ou na vida real. São dois mil anos de uma fonte inesgotável de história. 

As Sandálias do Pescador (The Shoes of the Fisherman, Estados Unidos, Itália, 1968) Direção: Michael Anderson / Roteiro: John Patrick, James Kennaway baseados no livro de Morris West / Elenco: Anthony Quinn, Laurence Olivier, Oskar Werner, Vittorio de Sica / Sinopse: Após escapar do regime brutal soviético um cardeal russo (Anthony Quinn) acaba sendo eleito o novo Papa com o nome de Kiril I. Filme indicado ao Oscar nas categorias de de melhor Trilha Sonora original e melhor Direção de Arte.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Os Dez Mandamentos

Os Dez Mandamentos
Considerado até hoje um dos maiores épicos da história de Hollywood. Essa superprodução foi fruto do empenho pessoal do produtor e diretor Cecil B. DeMille. Conhecido por pensar grande, para alguns sofria de uma certa megalomania, ele tinha verdadeira obsessão pelas histórias do velho testamento. Era um dos vários magnatas judeus da indústria cinematográfica americana. Ele já havia produzido uma versão de Moisés na era do cinema mudo, mas resolveu fazer o remake de sua própria obra, com mais tecnologia e recursos do cinema dos anos 50. Para isso ele não poupou recursos, inclusive se utilizando de diversas técnicas de efeitos especiais, sendo que o filme, apesar de ser indicado oito vezes ao Oscar, acabou vencendo apenas em uma categoria, justamente a de efeitos visuais. O filme também se notabilizou pelo visual, maquiagem, figurino e demais aspectos de produção, que foi obviamente milionária.

O resultado certamente soa grandioso na tela, não apenas pelos exageros de cenários, figurinos, etc, mas também pela longa duração do filme, o que assustou um pouco os donos de cinema da época, pois eles acreditavam que isso iria ser prejudicial nas bilheterias. Não foi, "Os Dez Mandamentos" se tornou uma das maiores bilheterias da época e acabou abrindo caminho para outras megaproduções que seguiam na mesma linha. Para o ator Charlton Heston esse clássico foi um divisor de águas pois interpretar Móises marcou para sempre sua carreira. Enfim, um dos filmes que melhor captaram o que Hollywood poderia fazer de melhor naquele período histórico.

Os Dez Mandamentos (The Ten Commandments, Estados Unidos, 1956) Direção: Cecil B. DeMille / Roteiro: Dorothy Clarke, A.E. Southon / Elenco: Charlton Heston, Yul Brynner, Anne Baxter / Sinopse: O filme conta a história de Moisés (Heston), líder religioso e político do povo hebreu que liderou sua saída do Egito, onde viveram como escravos por longos anos. Filme premiado com o Oscar na categoria de melhores efeitos especiais (John P. Fulton).

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

A Um Passo da Eternidade

A Um Passo da Eternidade 
O soldado Robert E. Lee Prewitt (Montgomery Clift) é transferido para uma base militar no Havaí após ter alguns problemas com oficiais no quartel onde servia. Lá ele fica sob o comando do Sargento Milton Warden (Burt Lancaster). Prewitt tem fama de bom boxeador, mas não quer voltar aos ringues. Como o Comandante do grupo é fã do esporte ele tenta convencer o soldado a lutar de qualquer jeito ao lhe impor uma rígida disciplina militar. Seu objetivo é forçar Previtt a lutar na competição militar, mas ele resiste bravamente. Nesse ínterim, o Sargento Milton decide começar um caso extraconjugal com a bela Karen Holmes (Deborah Kerr); O problema é que ela é a esposa de seu Capitão!

"A Um Passo da Eternidade" é um dos clássicos mais famosos da história do cinema americano. O que o distingue dos demais filmes de guerra da época é que o roteiro do filme procura desenvolver o máximo possível o aspecto mais humano dos personagens em cena. O papel de Clift é um exemplo. Ele é um novato que sofre todos os tipos de humilhações dentro da base. Mesmo assim resiste ás provocações para demonstrar seu ponto de vista. Ao se envolver com a dançarina de cabaré Lorene Burke (Donna Reed) ele procura acima de tudo uma redenção em sua vida, algo que valha a pena lutar. O enredo gira em torno dele, mas o filme não se resume a isso pois tem como pano de fundo o grande ataque japonês ao porto americano de Pearl Harbor, fato que ocasionou a entrada dos EUA na II Guerra Mundial. O argumento assim tenta dar um rosto e uma história para os milhares de militares americanos que estavam no Havaí nesse grande bombardeio das forças do império japonês.

Baseado no romance best-seller de James Jones, "A Um Passo da Eternidade" é, em essência, um filme sobre relacionamentos humanos, paixões, rivalidades nas vésperas de um dos maiores acontecimentos da história norte-americana. Além do filme em si ser um marco, a produção ficou conhecida também por várias histórias de bastidores. Uma das mais conhecidas envolveu o cantor Frank Sinatra. Na época ele estava em um péssimo momento na carreira. Após ter um problema vocal suas vendas despencaram e assim Sinatra ficou sem muitas alternativas. Ao descobrir que a Columbia faria "A um Passo da Eternidade" resolveu lutar pelo papel de Angelo Maggio, um soldado boa praça que é vítima de um guarda sádico (interpretado pelo sempre ótimo Ernest Borgnine). O drama para Sinatra começou quando o diretor Fred Zinnemann o recusou para o filme. Segundo afirmam alguns livros o chefão mafioso Sam Giancana, atendendo a um pedido desesperado de Sinatra, colocou Zinnemann contra a parede para que ele escalasse o cantor em decadência. O fato acabou sendo utilizado em "O Poderoso Chefão" em uma cena em que um cantor italiano pede ajuda a Don Vito Corleone para que ele fosse escalado para um filme importante.  A cena é impactante quando uma cabeça de cavalo decepada é colocada ao lado da cama de um cineasta famoso.

De qualquer modo, seja lá como entrou no filme, o fato é que Sinatra conseguiu voltar ao auge. Ele venceu o Oscar de melhor ator coadjuvante por sua atuação e o filme acabou se tornando o grande premiado de seu ano, levando para casa ainda mais sete prêmios. Uma consagração praticamente completa na mais prestigiada premiação do cinema mundial. Burt Lancaster também foi indicado ao Oscar de melhor ator, mas não venceu. Havia um certo preconceito contra ele, por ser um astro de filmes de ação e aventura na época. Já Montgomery Clift foi completamente esquecido em mais uma daquelas famosas injustiças da Academia. A consolação para Lancaster veio pelo fato de ter feito a cena mais famosa de sua carreira, quando beija Deborah Kerr na beira da praia. Um momento considerado extremamente ousado para a época, com sensualidade à flor da pele.

A Um Passo da Eternidade (From Here to Eternity, Estados Unidos, 1953) Direção: Fred Zinnemann / Roteiro: Daniel Taradash baseado no romance de James Jones / Elenco: Burt Lancaster, Montgomery Clift, Deborah Kerr, Frank Sinatra, Donna Reed, Ernest Borgnine, Philip Ober / Sinopse: Nas vésperas do ataque japonês à base de Pearl Harbor, fato que levou os Estados Unidos a entrarem na II Guerra Mundial, um grupo de soldados vivem seus dramas pessoais em um regimento do Havaí. Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção (Fred Zinnemann), Melhor Roteiro (Daniel Taradash), Melhor Ator Coadjuvante (Frank Sinatra), Melhor Atriz Coadjuvante (Donna Reed), Melhor Fotografia em Preto e Branco (Burnett Guffey), Melhor Som (John P. Livadary) e Melhor Edição (William A. Lyon). Filme vencedor do Globo de Ouro nas categorias de Melhor Direção (Fred Zinnemann) e Melhor Ator Coadjuvante (Frank Sinatra),  

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Tarde Demais

Tarde Demais
Um dos filmes românticos mais lembrados da carreira de Montgomery Clift e Olivia de Havilland, aqui em elogiada atuação que inclusive lhe garantiu o Oscar de Melhor Atriz naquele ano. Ela interpreta Catherine Sloper, uma moça que não parece atrair muito a atenção dos homens. Sem muitos atrativos, pouco bela e até desajeitada, ela fica longe do ideal romântico de sua época. Filha de um rico homem de negócios, ela acaba conhecendo em uma festa o bem apessoado Morris Townsend (Montgomery Clift). Ele parece ser o tipo ideal que uma garota como ela poderia almejar como namorado e quem sabe, um dia, seu futuro marido. O jovem com ares de galã acaba suprindo o vazio em sua vida sentimental. Não demora muito e Catherine logo fica perdidamente apaixonada por ele. Ao saber do breve romance da filha, seu pai fica obviamente enfurecido, uma vez que percebe as verdadeiras intenções de Morris, que no fundo parece querer apenas a rica herança de sua jovem. Para ele o amor de sua filha seria na verdade apenas um aproveitador, um “caçador de dotes”. A não aprovação do pai logo torna a situação tensa e conflituosa. Seria uma visão verdadeira da situação ou apenas mais um caso de preconceito social, já que o personagem de Clift não teria o mesmo dinheiro que o pai de sua jovem namorada?

Por amar muito Morris, a garota então decide romper com o pai para fugir com o amado. O pai imediatamente a deserda de toda a herança. Morris ao saber disso, simplesmente vai embora deixando a jovem destruída emocionalmente para trás. Teria ele fugido por medo, covardia da reação do pai de Catherine ou seria simplesmente o ato de um interesseiro, um golpista do baú? Anos depois, com o falecimento do pai, Catherine se torna finalmente a única herdeira de uma grande fortuna. Para sua surpresa nesse momento sua grande paixão do passado, Morris, reaparece. E agora, dará ela uma segunda chance ao homem que tanto amou?

“Tarde Demais” é uma excelente produção de época, que revive a alta sociedade americana do século XIX. Embora Olivia de Havilland esteja soberba como Catherine, o filme pertence mesmo a Montgomery Clift. Seu personagem, Morris, é muito rico em nuances psicológicas. A todo o tempo o espectador fica perdido, sem saber se ele é de fato um aproveitador ou apenas um homem fraco que não agüentou a pressão do pai de Catherine. O cineasta William Wyler também esbanja elegância e sofisticação nessa adaptação do famoso livro escrito por Henry James. Em suma, eis aqui um dos melhores filmes românticos de Hollywood em sua fase de ouro, em sua fase clássica. Uma obra prima do gênero.

Tarde Demais (The Heiress, Estados Unidos, 1949) Direção: William Wyler / Roteiro: Ruth Goetz, Augustus Goetz, baseados na obra de Henry James / Elenco: Olivia de Havilland, Montgomery Clift, Ralph Richardson, Miriam Hopkins / Sinopse: Rica herdeira fica em um grande dilema após o seu pai desaprovar o romance com o grande amor de sua vida! Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor atriz (Olivia de Havilland), Melhor direção de arte, Melhor figurino e Melhor trilha sonora. Indicado ainda ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Direção, Ator Coadjuvante (Ralph Richardson) e Melhor Fotografia. Vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz (Olivia de Havilland).

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Hollywood Boulevard - Rock Hudson - Texto I

Na década de 1950 os padrões morais eram tão rígidos que era quase impossível para a sociedade aceitar que uma mulher viúva, mais velha, viesse a ter uma nova paixão em sua vida, ainda mais se fosse com um rapaz mais jovem e de classe social inferior. É justamente nesse tema bem espinhoso que se desenvolve a trama do filme "Tudo o Que o Céu Permite" (All That Heaven Allows, EUA, 1955). O filme foi dirigido pelo excelente cineasta Douglas Sirk, especialistas em dramas como esse e estrelado pelo astro máximo da Universal na época, Rock Hudson.

Rock estava ainda se firmando na carreira. Ele já havia chamado a atenção antes em filmes de western e de guerra, mas havia encontrado mesmo seu nicho em filmes românticos, dramáticos e com temas edificantes, geralmente baseados em livros de sucesso. Sua fase de êxito de bilheteria em comédia românticas, como as que realizou ao lado de Doris Day só viria depois. Aqui ele exercita seu lado galã, o tipo ideal para interpretar personagens assim na opinião de Sirk. Ele queria um tipo que representasse o americano médio, alto, honesto e de bom visual. Não havia ninguém melhor que Rock para o papel.

Ao seu lado atua a atriz Jane Wyman. Ela já era uma veterana da telas quando o filme foi realizado e por isso procurou ajudar Rock que ainda tinha momentos de puro amadorismo, fruto de sua falta de experiência. O interessante é que Jane até mesmo se sentiu atraído pelo jovem galã no set de filmagens, mas obviamente não deu em nada. Rock era gay e escondia sua condição para não atrapalhar sua carreira, afinal de contas seu desempenho era baseado também na incrível força de atração que exercia nas mulheres que iam assistir aos seus filmes. Se elas descobrissem que ele era na realidade gay o encanto iria se desfazer no ar e nenhum produtor o chamaria mais para trabalhar. Seria o fim de sua carreira. Talvez por isso Jane tenha procurado por outros pretendentes, entre eles o ator Ronald Reagan que iria se tornar o Presidente dos Estados Unidos na década de 1980.

Revendo esse filme hoje em dia várias coisas chamam a atenção, mas uma delas se destaca. Douglas Sirk trabalhou com fotografia em cores (algo que ainda era considerada uma novidade na época, só se tornando padrão depois). Diante da nova tecnologia ele criou um filme muito bonito de se assistir, com cores fortes e intenso aproveitamento dos cenários naturais, tudo filmado em locações reais (outra novidade já que naqueles tempos as empresas cinematográficas preferiam rodar tudo em seus enormes estúdios de Hollywood). Diante disso se há algo que ficará em sua mente após assistir ao filme será justamente o tom de pintura natural que Douglas Sirk imprimiu à sua obra. É certamente o aspecto mais marcante de todo o filme.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Hollywood Boulevard - Elizabeth Taylor - Texto I

Elizabeth Taylor
Ao longo de sua carreira a atriz Elizabeth Taylor criou um carinho e amizades bem sólidas com inúmeros astros de Hollywood. Ela foi bem próxima de Rock Hudson, James Dean e Montgomery Clift. Sempre que identificava uma certa vulnerabilidade em torno de alguém que estava trabalhando ao seu lado, ela imediatamente se oferecia como amiga e apoio nos momentos complicados e difíceis de superar.

E em termos de vulnerabilidade poucos astros eram tão desprotegidos como Montgomery Clift. Ele teve uma educação refinada, nos melhores colégios, mas precisou mudar de vida quando sua família, outrora rica e abastada, perdeu quase tudo durante a quebra da bolsa de Nova Iorque. A partir daí Mont precisou trabalhar e achou na profissão de ator o caminho que tanto procurava na vida. Acabou sendo muito bem sucedido não apenas nos palcos de teatro como também nas telas de cinema. Era muito talentoso, ao ponto de ser reconhecido por ninguém menos que Marlon Brando como o "melhor ator de sua geração".

Ao lado do grande talento de ator havia também um ser humano inseguro, com problemas pessoais envolvendo alcoolismo. Uma identidade sexual incerta também colaborava bastante para seus traumas psicológicos. Assim Elizabeth Taylor se colocou ao seu lado, desde que o conheceu pela primeira vez. Ela o protegeu da imprensa - sempre em busca de escândalos sexuais envolvendo famosos - e se prontificou a sempre lhe ajudar. Quando dava jantares e festas em sua casa, Liz sempre convidava Clift. A razão é que ele tinha uma personalidade tímida e solitária e ela o ajudava a se socializar melhor.

E em Hollywood comparecer em eventos sociais era vital para a carreira de qualquer ator. Eram nessas festas que contratos com produtores eram fechados, elencos formados. Em mais de uma ocasião, Liz colocou como condição de sua participação em filmes a contratação também de Montgomery Clift aos estúdios. Era uma forma não apenas de arranjar trabalho para ele como também de ocupar seu tempo, evitando que sua personalidade auto destrutiva se impusesse em sua vida. Foram amigos até o fim, porém nada e nem ninguém pode salvar alguém de si mesmo. Montgomery Clift morreu jovem e arruinado pela bebida, apesar de todos os esforços de sua grande amiga Liz Taylor.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Marcado pela Sarjeta

Esse é um filme baseado em fatos reais. Na história de um dos lutadores mais conhecidos da história do boxe americano. O roteiro é até bem convencional, sendo respeitoso com o protagonista, muito embora não esconda seus problemas pessoais e profissionais. Tudo levado numa ótica mais realista possível.O texto do roteiro foi baseado na autobiografia do lutador de boxe Rocky Graziano, aqui sendo interpretado por Paul Newman, acompanhamos sua trajetória desse boxeador rumo ao sucesso no esporte, seus amores, dramas e finalmente a queda após um momento de auge e excessos em sua carreira. Foi considerado um excelente drama esportivo, uma cinebiografia tocante e talentosa do popular lutador de boxe Rocky Graziano. O papel havia sido escrito para ser estrelado por James Dean, embora ele não tivesse altura e porte físico suficientes para encarnar o famoso boxeador. Com sua morte em um acidente de carro na estrada de Salinas, na Califórnia, a MGM ficou algum tempo em busca de um ator talentoso para encarnar Rocky nas telas. A procura porém não demorou muito, pois um novo astro estava surgindo em Hollywood. E o jovem Paul Newman parecia ser o sucessor natural de James Dean, até porque o caminho de ambos já tinham se cruzado algumas vezes na capital mundial do cinema.

Paul Newman, que também vinha do mesmo Actors Studio de Dean, se revelou ser uma excelente opção. A estrutura do roteiro se revelava perfeita em três atos, mostrando a luta de Rocky em chegar ao topo, seus excessos e sua queda, tanto no esporte como na vida. Os destaques em termos de técnica cinematográfica vão para a bela fotografia e a inspirada direção de arte (não por acaso vencedoras do Oscar). A edição também se destaca, principalmente nas cenas de luta, que imprime uma grande agilidade nas sequências. Além disso Newman conseguiu pela primeira vez no cinema disponibilizar ao público uma excelente atuação. Outro destaque do elenco vem com a presença da atriz Pier Angeli, o grande amor de James Dean, que se destaca em sua personagem. Ela era inegavelmente uma boa atriz, porém morreu muito cedo, precocemente. Depois da morte de James Dean tentou uma nova vida em Hollywood, se casou, mas se tornou uma pessoa infeliz com o passar dos anos. Nessa produção ela teve a melhor atuação de toda a sua carreira. Em suma um belo clássico que merece ser redescoberto sempre que possível.

Marcado pela Sarjeta (Somebody Up There Likes Me, Estados Unidos, 1956) Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) / Direção: Robert Wise / Roteiro: Ernest Lehman / Elenco: Paul Newman, Pier Angeli, Everett Sloane / Sinopse: De origem humilde, o lutador de boxe Rocky Graziano (Paul Newman) começa a subir na carreira, se transformando em um campeão dos ringues. Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Fotografia em Preto e Branco (Joseph Ruttenberg) e Melhor Direção de Arte (Cedric Gibbons e Malcolm Brown). Indicado ainda a Melhor Edição.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Hollywood Boulevard - Marilyn Monroe - Texto I

Hollywood Boulevard - Marilyn Monroe - Texto I
A sexualidade de Marilyn - Apesar de ter sido um dos maiores símbolos sexuais da história do cinema, Marilyn nunca conseguiu ser plenamente feliz em sua vida sexual. Isso pode ser comprovado nos escritos que deixou ao longo dos anos. Em vários deles Marilyn deixou bem claro que, em muitos aspectos, sentia-se frustrada nesse aspecto. Assim não faltaram farpas para os homens que conseguiram levar a estrela para a cama. Marilyn costumava dar apelidos engraçados para os vários tipos de parceiros sexuais que teve. Um dos que mais lhe irritavam eram os "lobos". Marilyn usava essa denominação para qualificar homens que se aproximavam dela com segundas intenções. Na superfície pareciam homens bondosos que queriam lhe ajudar, mas que no fundo mesmo só queriam explorar a atriz para fins, digamos, libidinosos. Outros que não agradavam em nada eram os "apaixonados por si mesmos". Homens bonitos, fortes e musculosos, que perdiam mais tempo se olhando no espelho do que dando atenção para a mulher ao seu lado. Tipos egocêntricos, com cabelos cheios de brilhantina, e sorrisos falsos. Sexualmente esse tipo de parceiro, segundo Marilyn, não era nada interessante na cama. Só procuravam se satisfazer sexualmente a si mesmos, ao seus egos famintos, deixando as pobres garotas ao seu lado insatisfeitas.

Marilyn reclamava bastante também da forma como os homens de sua época faziam amor. Para a atriz a grande maioria deles eram puramente "mecânicos" e não se importavam em dar carinho ou afeto para ela. Assim Marilyn ficava com a impressão que esses tais "garanhões" se comportavam na verdade como se estivessem em algum atividade esportiva, em maratonas de exercícios e não em uma relação que exigia também cumplicidade e afeição com a parceira. Como teve muitos amantes Marilyn também acabou conseguindo ter uma boa experiência com homens em geral. Os vários relacionamentos e namoros fizeram com que ela logo descartasse os bonitões de estúdio que lhe importunavam.

O tipo ideal de homem para Marilyn acabou sendo bem mais velho do que ela, geralmente pessoas mais carinhosas e que sabiam ouvir. Também começou a ter uma queda por homens intelectualmente interessantes, que pudessem lhe trazer mais cultura e conhecimento. O sexo, na opinião de Marilyn, jamais poderia ser o fator mais importante em um relacionamento e ela provou seu ponto de vista no casamento com Joe DiMaggio. Sexualmente eles se davam muito bem, mas Joe era intelectualmente medíocre. Um italiano que preferia falar sobre esportes a ter algum tipo de conversa com mais conteúdo ao lado de sua jovem esposa. Não demorou então e o casamento entre eles logo acabou. Afinal de contas como ela própria dizia: "Uma relação sexual dura poucos minutos, depois você terá que aturar seu homem pelo resto do dia! Se não for uma pessoa interessante você estará em uma situação complicada de se lidar".

Outro fato curioso sobre Marilyn embaixo dos lençóis é que ela geralmente ficava frustrada após uma noite de amor. Ela não tinha muito prazer e isso lhe deixou bem encucada por um bom tempo. Em seu diário confessou: "Devo ser frígida, porque nunca fico plenamente satisfeita com sexo!". O pior acontecia quando ela tinha relações com homens que pouco se importavam se ela estava tendo algum prazer. Depois de uma transa rápida simplesmente viravam para o lado na cama e iam dormir. Não raro Marilyn ficava devastada quando isso acontecia. Sua frustração chegou ao ponto dela se perguntar se ainda gostava mesmo de homens, se era de fato heterossexual. "Será que se eu me relacionasse com uma mulher teria maior prazer?" - era um pensamento recorrente que Marilyn resolveu inclusive colocar no papel. Curiosamente porém ela nunca quis dar um passo à frente nessa questão e pelo que se saiba não existem evidências fortes o suficientes para revelar algum caso lésbico em sua vida. Pelo visto a atriz seguiu mesmo o caminho dos frustrantes relacionamentos com homens, ainda que muitos deles fossem decepcionantes e sexualmente insatisfatórios.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Hollywood Boulevard - Marlon Brando - Texto I

Quando estava na Big Apple seu passatempo preferido era cruzar as longas avenidas da cidade, naquele período histórico quase deserta. Isso porque, como Brando bem explicou, a imensa maioria dos homens americanos estavam servindo no exterior, na Segunda Guerra Mundial, O ator assim era um dos poucos de sua idade que tinham ficado para trás já que havia sido dispensado do serviço militar após quebrar seu joelho em um jogo de futebol na escola. Sobre a vida de motoqueiro naqueles tempos pioneiros o ator relembrou alguns macetes para ser um autêntico rebelde. 

Uma delas era encher o casaco de jornais para evitar o frio intenso do inverno da cidade. Outra dica era procurar por sinais escritos no chão por giz, onde outros motoqueiros deixavam mensagens que apenas outros motoqueiros conseguiriam entender. Uma seta poderia indicar que ali havia restaurantes com comidas baratas e boas ou então que a vizinhança era perigosa no período noturno. Curiosamente Brando adorava passar as noites dirigindo por Nova Iorque. Muitas vezes preferia dormir nas praças ou no Central Park. Encostava sua máquina e ia tirar um cochilo. Nova Iorque nas décadas de 1940 e 1950 era considerada extremamente segura e o ator não tinha receios de dormir ao ar livre, sem problemas.

Isso sem esquecer as mulheres, sim as mulheres. Havia milhares delas pela cidade, todas sozinhas pois seus homens estavam na guerra. Para Brando não importava muito que fossem casadas ou comprometidas. Se estivessem dispostas a uma noite de aventuras ele certamente também estaria disposto. O ator adorava mulheres negras ou exóticas - ou como os americanos gostam de chamar, mulheres étnicas, latinas, orientais ou estrangeiras em geral. Não raro o ator conhecia uma mulher dessas durante a tarde e ia passar a noite ao seu lado. 

Algumas vezes as coisas não corriam muito bem, como naquela ocasião em que um dos soldados retornou à Nova Iorque bem na noite em que Brando desfrutava a companhia de sua esposa. Brando estava na cama com sua amante quando bateram na porta. Parecia um gigante dando murros na parede. Brando deu um pulo e descobriu que o sujeito era um homem com dois metros de altura, acostumado a virar carros com os próprios punhos. O jeito foi sair de mansinho pelas escadas de incêndio. Coisas de um jovem rebelde nos anos mais aventurescos de sua vida. Afinal de contas ser um rebelde selvagem não era coisa para qualquer um.

Pablo Aluísio.