sábado, 10 de maio de 2025

Fogo Por Sobre a Inglaterra

Título no Brasil: Fogo Por Sobre a Inglaterra
Título Original: Fire Over England
Ano de Produção: 1937
País: Inglaterra
Estúdio: London Film Productions
Direção: William K. Howard
Roteiro: Clemence Dane
Elenco: Laurence Olivier, Flora Robson, Vivien Leigh, Raymond Massey, Leslie Banks, Tamara Desni

Sinopse:
Durante o reinado de Elizabeth I da Inglaterra uma série de conspirações rondam a rainha. Nobres ligados à sua irmã Mary, também filha de Henrique VIII, planejam destronar Elizabeth, colocando em seu lugar a católica e mais bem vista pela Espanha, Mary Stuart. Só que Elizabeth também está disposta a fazer de tudo para se manter no poder. Roteiro escrito baseado no romance histórico escrito por A.E.W. Mason.

Comentários:
O filme que fez Hollywood se interessar por Vivien Leigh foi o drama histórico "Fogo Por Sobre a Inglaterra", que se passava nos tempos do reinado da Rainha Elizabeth I. Vivien ficou extremamente bem no filme, com roupas de época. Ela ainda era bem jovem e sua imagem chamou a atenção dos grandes estúdios americanos. O fato desse filme inglês ser exibido nos cinemas dos Estados Unidos serviu como um cartão de visitas da atriz no outro lado do Atlântico. Esse filme também foi um marco na vida pessoal da atriz pois ela conheceu o ator Laurence Olivier com quem iria se casar futuramente. O fato de ambos serem atores, lutando pela carreira em Londres na pequena indústria cinematográfica local, acabou servindo de atração entre eles. O romance não demorou muito a acontecer, até porque Vivien se sentia bem solitária nos primeiros dias na capital britânica. Seus familiares e amigos ficaram no interior e em Londres ela precisou formar um novo círculo de amigo. Era uma nova vida que começava para ela.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 9 de maio de 2025

Vivien Leigh - Filmografia Completa - Parte 1

Vivien Leigh - Filmografia Completa - Parte 1
Eternamente imortalizada pelo filme "E O Vento Levou" a atriz Vivien Leigh teve uma produtiva carreira no cinema americano e também no cinema inglês. No total foram 21 filmes. Ela foi premiada com o Oscar duas vezes. A primeira por Scarlett em "E O Vento Levou" e a segunda por interpretar Blanche DuBois na versão cinematográfica da peça "Uma Rua Chamada Pecado". Segue abaixo a lista completa de seus filmes, separados por an1o de lançamento. O que mais chama a atenção é como ela conseguiu emplacar em Hollywood. Ao ser escalada para interpretar a protagonista de "E O Vento Levou" tudo mudou. E isso aconteceu de forma muito rápida! Impressionante como ela virou uma estrela do cinema em tão pouco tempo.

1935:
The Village Squire
Gentleman's Agreement
Things Are Looking Up
 Look Up and Laugh
 

Esses foram seus primeiros filmes, todos feitos na Inglaterra. Não foram lançados no Brasil, por isso não possuem títulos nacionais.

1937:
Fogo Por Sobre a Inglaterra
Tempestade Num Copo D'Água


Após um ano parada, se dedicando aos estudos, a atriz voltou a filmar. Seus dois primeiros filmes chegaram ao Brasil.

1938:
Um Yankee em Oxford
As Calçadas De Londres

Dois bons filmes ingleses, ambos foram lançados no Brasil. Ela decide ir para os Estados Unidos depois que termina as duas produções. Almeja uma carreira em Hollywood.

1939:
...E o Vento Levou

O ano em que tudo mudou. Ela é escolhida para atuar em um dos mais populares filmes da história de Hollywood. A consagração é completa e ela leva o Oscar para casa, curiosamente em seu primeiro filme rodado nos Estados Unidos! Da noite para o dia ela se torna uma das atrizes mais conhecidas do mundo em uma das mais incríveis histórias de sucesso do cinema.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 8 de maio de 2025

Asas

Título no Brasil: Asas
Título Original: Wings
Ano de Produção: 1927
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: William A. Wellman
Roteiro: John Monk Saunders
Elenco: Clara Bow, Charles 'Buddy' Rogers, Richard Arlen, Gary Cooper

Sinopse:
Dois jovens norte-americanos se apaixonam pela mesma mulher ao mesmo tempo em que se tornam pilotos de aviões de guerra durante a sangrenta Primeira Grande Guerra Mundial. Filme premiado com o Oscar nas categorias de Melhor Filme e Melhores Efeitos Técnicos (Roy Pomeroy).

Comentários:
Esse filme entrou para a história do cinema por ter sido o primeiro filme a ser premiado com o Oscar de melhor filme do ano! Isso aconteceu há quase 100 anos! É um filme de aventura e romance. Nenhum dos atores principais hoje em dia são conhecidos. Entretanto há um jovem coadjuvante que iria se tornar um astro de Hollywood em sua era de ouro. Estou me referindo ao ator Gary Cooper que interpreta um piloto nesse filme, um personagem chamado Cadete White. Bastante jovem e já carismático, se destacou nas poucas cenas em que apareceu. No mais é um filme bem realizado, levando-se em consideração o estado primitivo do ponto de vista técnico pelo qual o cinema existia naquela época. As cenas de batalha aérea porém ainda conseguem manter o charme de um passado remoto. Enfim, um filme que vale a pena ser conhecido pelos cinéfilos por causa de sua importância histórica para a sétima arte.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 7 de maio de 2025

Amante do Seu Marido

Título no Brasil: Amante do Seu Marido
Título Original: Ex-Lady
Ano de Produção: 1933
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Robert Florey
Roteiro: David Boehm, Edith Fitzgerald
Elenco: Bette Davis, Gene Raymond, Frank McHugh, Monroe Owsley, Claire Dodd
  
Sinopse:
Helen Bauer (Bette Davis) é uma artista bem sucedida que nem quer ouvir falar em casamento. Para ela o matrimônio, com papel passado na frente do juiz ou do padre, acaba matando o romance. Ela gosta do compositor Don Peterson (Gene Raymond) e sente que, um dia, quem sabe, pode vir até mesmo a se casar com ele. O que Helen não quer é pressão e nem pressa para subir ao altar, mas acaba mudando de ideia quando aparece uma concorrente, a bela e doce Peggy Smith (Kay Strozzi) que também está de olho em seu futuro marido!

Comentários:
Qualquer filme que seja estrelado pela grande diva do cinema clássico Bette Davis certamente valerá a pena! Esse aqui, por exemplo, não passa de uma espécie de comédia romântica, com roteiro que critica os costumes dos relacionamentos amorosos de sua época. Não há nada de muito relevante nele, pois é um filme para pura diversão. Isso porém não quer dizer que não tenha méritos. Um deles é explorar a figura de uma mulher independente e dona de si e seu destino em plenos anos 1930, onde ainda havia forte pressão no papel da mulher que deveria se casar e ter filhos. Bette interpreta uma mulher moderna, dos novos tempos, que não está muito preocupada com isso. Seu figurino, seus penteados e suas atitudes são pura Belle Époque! Um tempo em que se procurava por mudanças, para não existir mais tanta repressão moralista! Um momento em que as mulheres finalmente procuravam seguir por seus próprios caminhos. E isso não acontecia apenas nas telas, mas nos bastidores também. A atriz Bette Davis exigiu um salário melhor (ela ganhava menos do que o ator que tinha um papel secundário no filme!) e acabou assinando um contrato muito vantajoso com os estúdios da Warner. Davis, que nunca foi de fazer concessões, acabou assim abrindo um caminho importante em Hollywood para a valorização das mulheres dentro da indústria cinematográfica.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 6 de maio de 2025

Carlitos Bombeiro

Título no Brasil: Carlitos Bombeiro
Título Original: The Fireman
Ano de Produção: 1916
País: Estados Unidos
Estúdio: Mutual Film
Direção: Charles Chaplin
Roteiro: Charles Chaplin, Vincent Bryan
Elenco: Charles Chaplin, Edna Purviance, Lloyd Bacon, Eric Campbell, Leo White, James T. Kelley

Sinopse:
Carlitos (Charles Chaplin) arranja um novo emprego no corpo de bombeiros da cidade. Tudo começa bem calmo, mas logo se transforma em caos quando ele e seus companheiros precisam apagar um grande incêndio em uma casa. E quem poderia imaginar que ele iria encontrar o grande amor de sua vida nessa tragédia?

Comentários:
Depois do sucesso de seus primeiros filmes Chaplin finalmente pôde colocar em prática suas ideias de humor físico mais bem elaborado. Agora ele pedia ao estúdio não apenas um grande elenco de apoio, com coadjuvantes e extras, etc, mas também cenários muito bem elaborados. Para esse filme Chaplin pediu duas casas para incendiar, além de acesso sem restrições ao quartel do corpo de bombeiros de Los Angeles, dois pedidos que foram aceitos, não sem grande sacríficio. Os bombeiros adoravam Chaplin e não se recusaram a aparecerem no filme. Até porque foi necessário mesmo a presença deles por causa das casas pegando fogo - e de verdade! O filme é muito divertido, como era de se esperar. Com 24 minutos de duração, o que hoje em dia seria considerado um curta-metragem, foi também um dos últimos filmes de Chaplin em que ele investiu basicamente no humor físico, sem desenvolver muito os personagens, algo que em breve iria acontecer.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 5 de maio de 2025

O Satânico Dr. No

Esse foi o primeiro filme de James Bond no cinema. Foi uma produção complicada, fruto das dificuldades de se adaptar para o cinema as aventuras escritas por Ian Fleming no mundo da literatura. O interesse dos estúdios surgiu curiosamente após o presidente John Kennedy declarar que os livros de Fleming eram os seus preferidos para se ler em momentos de lazer. Assim os direitos do livro foram comprados, porém havia um problema básico a se superar. Quem iria interpretar o agente James Bond, 007? Após várias especulações o estúdio escolheu um ator que era relativamente desconhecido na época, o escocês Sean Connery. E mesmo com todas as críticas por sua escolha (o sujeito nem era inglês!), o resultado se mostrou melhor do que se poderia esperar. Tanto que hoje em dia Connery ainda é escolhido em diversas listas como o melhor James Bond da história do cinema.

De qualquer forma temos também que admitir que apesar de ser um filme importante, por ter sido o primeiro Bond e tudo mais, esse filme envelheceu muito. Esteticamente ainda soa nostálgico e elegante, principalmente quando Connery está em cena, vestindo um elegante smoking. Porém nas cenas finais de ação, com toda aquela parafernália antiga, o filme se mostra completamente datado nos dias atuais. O diretor Terence Young fez um bom trabalho com o que tinha à disposição naqueles tempos, mas revisto hoje em dia o peso dessa mesma produção se faz sentir e de uma maneira bem ultrapassada.

O Satânico Dr. No (Dr. No, Inglaterra, 1962) Direção: Terence Young / Roteiro: Richard Maibaum, Johanna Harwood, baseados no livro escrito por Ian Fleming / Elenco: Sean Connery, Ursula Andress, Joseph Wiseman, Jack Lord, Bernard Lee / Sinopse: O agente inglês James Bond (Sean Connery) é enviado para desvendar o desaparecimento de um membro do serviço de inteligência de sua majestade, ao mesmo tempo que encontra uma ligação com a suspensão do programa espacial dos Estados Unidos. Por trás de tudo há um vilão sinistro, o misterioso Dr. No.

Pablo Aluísio.

domingo, 4 de maio de 2025

O Marujo Foi Na Onda

Jerry Lewis começou a carreira se apresentando em pequenas espeluncas de Nova Iorque em troca de alguns trocados e só viu sua sorte mudar quando se uniu a um cantor desconhecido que também estava tentando abrir as portas do sucesso. Era Dean Martin. Eles criaram então um número perfeito. Um cantor galã que tentava se apresentar com todo o glamour e romantismo possível enquanto era atrapalhado por um pateta que fazia as maiores confusões. Esse novo show lhes trouxe mais público, melhores lugares para se apresentar e finalmente lhes abriram as portas do mundo do cinema. Foi o produtor Hall B. Wallis que deu as melhores oportunidades para a dupla Martin / Lewis na Paramount. Esse produtor tinha uma visão incrível pois ele sabia que o que fazia sucesso nos palcos poderia também muito bem fazer sucesso nas telas de cinema. Assim ele conseguiria ótimas bilheterias com a dupla e repetiria a dose anos depois ao acreditar em um jovem roqueiro que estava fazendo muito sucesso com seus shows ao vivo! O nome dele? Elvis Presley.

Pois bem, mas voltamos a Lewis e Martin. Esse “O Marujo foi na Onda” foi um dos primeiros filmes da dupla na Paramount. Rodado ainda em preto e branco a película seguia por uma fórmula que se tornaria sucesso absoluto de bilheteria nos anos que viriam. O roteiro é de certa forma uma repetição do que havia sido usado com muito sucesso em “O Palhaço do Batalhão” onde Jerry Lewis ia para o exército dando origem a muitas confusões. Aqui se trocou o exército pela marinha e repetiu-se o que havia dado tão certo antes, ou seja, muitas cenas divertidas, intercaladas com momentos musicais românticos a cargo de Dean Martin, que apresentava suas músicas entre uma palhaçada e outra de Lewis. O filme tem aquele clima bem leve, descontraído, que tentava agradar ao público que ia ao cinema apenas em busca de uma diversão bem humorada e descompromissada. 

Por fim um aspecto muito curioso sobre “O Marujo Foi na Onda”: nesse filme, no meio de tantos figurantes anônimos, surge um que se tornaria um dos maiores mitos da história do cinema alguns anos depois, o ator James Dean. Ela faz uma pequena ponta não creditada na cena da luta de boxe de Jerry Lewis. Ele era então apenas um jovem tentando a sorte em Hollywood e deu graças a Deus quando ganhou esse pequeno e quase imperceptível papel. Curiosamente anos depois Dean confessaria que no dia das filmagens havia tomado um milk shake estragado e que por isso quase vomitou em cima de Jerry Lewis. Uma pena não ter acontecido pois se encaixaria perfeitamente no enredo maluco do filme!  

O Marujo Foi Na Onda (Sailor Beware, Estados Unidos, 1952) Direção: Hal Walker / Roteiro: James B. Allardice, Martin Rackin / Elenco: Dean Martin, Jerry Lewis, Corinne Calvet, James Dean (não creditado) / Sinopse: Melvin (Jerry Lewis) e Al (Dean Martin) acabam entrando na marinha americana, sendo enviados para os mares do sul, o que dará origem a várias confusões.

Pablo Aluísio.

sábado, 3 de maio de 2025

Cinco Semanas Num Balão

Rever esse filme foi como relembrar as antigas reprises da Sessão da Tarde na década de 1980. Naquela época o cardápio de filmes clássicos sendo exibidos na TV aberta era bem farto e variado. E um dos campeões de exibição era justamente esse "Cinco Semanas Num Balão". O roteiro é baseado no livro do maravilhoso Júlio Verne, um dos mais imaginativos e criativos escritores de todos os tempos. Unindo fantasia e aventura ele acabou criando livros que até hoje encantam. O livro original foi publicado em 1863 e foi um dos primeiros a se tornarem best-seller. Uma fórmula que Verne iria repetir por muitos anos em seus livros seguintes. Pois bem, esse filme foi produzido para celebrar o centenário do livro, porém acabou se fazendo algumas mudanças para agradar ao público da década de 1960. Há claramente uma tentativa de transformar tudo em algo leve, divertido, com bastante humor. O filme foi dirigido pelo mestre da TV Irwin Allen, produtor de clássicas séries como "Perdidos no Espaço", "Terra de Gigantes", "Viagem ao Fundo do Mar" e "Túnel do Tempo". Trocando em miúdos, se havia alguém indicado para realizar um filme baseado nas aventuras cheias de fantasia de Verne, nome mais indicado não existia.

Infelizmente na ânsia de fazer algo muito leve e familiar, o diretor acabou tirando grande parte do conteúdo do livro de Verne. Por exemplo, o discurso abolicionista da trama original é apenas colocado em segundo plano. Ao invés de mostrar a garra dos protagonistas em chegar primeiro numa região desolada da África Ocidental para evitar que os traficantes de negros escravos dominassem o lugar, tudo é deixado bem de lado, para explorar mais as cenas de ação e humor. O elenco também é apenas mediano. O diretor escalou até o cantor juvenil Fabian para atrair bilheteria. O problema é que ele definitivamente era muito fraco como ator, mais parecendo uma imitação sem graça de Elvis Presley. Até a "Jeannie" Barbara Eden (da série "Jeannie é um gênio") foi desperdiçada. Ainda no auge da beleza ela não tinha muito a fazer a não ser desfilar com seu rosto bonito em cena. O único bom ator desse filme foi o veterano Richard Haydn. O resto realmente se tornou bem dispensável. Assim, no final das contas temos apenas um filme regular. Claro, servirá para trazer muita nostalgia para quem o assistiu na infância, mas é só. Como obra cinematográfica passa longe de ser considerado um clássico.

Cinco Semanas Num Balão (Five Weeks in a Balloon, Estados Unidos, 1962) Direção: Irwin Allen / Roteiro: Charles Bennett, baseado no livro de Jules Verne / Elenco: Red Buttons, Fabian, Barbara Eden, Richard Haydn / Sinopse: Para evitar que traficantes negreiros tomem posse de uma enorme  região remota na África Ocidental o governo da Inglaterra resolve enviar uma expedição em um balão para fincar a bandeira do Reino Unido naquele vasto território, para que assim as terras sejam reivindicadas pela coroa inglesa.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 2 de maio de 2025

O Terceiro Tiro

“O Terceiro Tiro” é um filme bem diferente da carreira do diretor Alfred Hitchcock. A impressão que o espectador tem ao assistir a essa produção é a de que o cineasta estava acima de tudo se divertindo muito, o que não é de se admirar uma vez que o enredo – em tom de humor negro – brincava o tempo todo com uma situação bem inusitada e bizarra. O título original do filme, “The Trouble with Harry” (O Problema com Harry), era bem mais explicativo do que o equivocado nome nacional que o distribuidor brasileiro arranjou. Provavelmente acreditaram que ninguém iria assistir ao filme, caso seu título fosse uma tradução literal. Bobagem, o nome de Alfred Hitchcock já garantia o  interesse dos cinéfilos em qualquer parte do mundo. No Brasil não seria diferente.

Pois bem, e qual seria esse problema com Harry? E afinal, quem diabos era Harry?! Ora, Harry era um cadáver abandonado em um bosque. Isso mesmo que você leu. O roteiro se baseava justamente nisso. Um corpo era encontrado sucessivamente por várias pessoas em ocasiões diferentes e todas elas procuravam esconder o fato dos demais. Isso porque nenhum deles tinha exatamente certeza sobre as circunstâncias da morte de Harry e algumas até pensavam ter alguma culpa no cartório sobre isso. Achou tudo muito bizarro? Estranho? Claro que sim. O roteiro brinca de forma até mórbida com a inusitada situação. Quem teria matado Harry? O que levou ele a esse trágico fim? E quem seria o verdadeiro assassino?

Harry acaba sendo encontrado por um garotinho, por sua mãe, pela ex-esposa, por uma jovem e até por um capitão. Todos eles lidando com a situação de uma forma até inesperada, alguns com até uma certa indiferença ao fato do morto estar ali estendido no chão entre as folhas do bosque. O roteiro dessa maneira arma toda uma situação de puro humor negro para divertir o espectador. O velho Hitchcock costumava dizer que “O Terceiro Tiro” era um de seus filmes preferidos. Ele atribuía isso ao fato do argumento ser muito diferente de suas outras produções, com acentuado clima de morbidez cômica, por mais estranho que isso pudesse parecer. Some-se a isso a bela fotografia de Vermont, um dos lugares mais bonitos e pacatos dos EUA e você terá o clima perfeito.

Além de Alfred Hitchcock na direção, outro fato que chama a atenção no filme é a presença da jovem atriz Shirley MacLaine no elenco. Poucos lembram disso, mas esse foi seu primeiro filme! Jovem e bonita, ela interpretava Jennifer Rogers, uma das pessoas que também se deparavam com Harry na floresta! Naquela época ela já demonstrava todo o seu carisma que iria ajudá-la a construir uma das mais marcantes carreiras da história do cinema americano. Enfim, “O Terceiro Tiro” é indicado para os que desejam conhecer um outro lado do mestre do suspense. Seu humor definitivamente não era convencional e nem normal, mas certamente poderia ser considerado bem divertido. Que tal rir um pouco com Alfred Hitchcock?

O Terceiro Tiro (The Trouble with Harry, Estados Unidos, 1955) Direção: Alfred Hitchcock / Roteiro: John Michael Hayes, baseado no livro de Jack Trevor Story / Elenco: Shirley MacLaine, Edmund Gwenn, John Forsythe, Mildred Natwick / Sinopse: O corpo de um sujeito chamado Harry é encontrado em um bosque por várias pessoas. Todas elas o conheciam, mas ninguém queria se comprometer com aquela bizarra descoberta. Todas acabam pensando ter algo a ver com sua morte. Filme vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Revelação Feminina (Shirley MacLaine). Também indicado ao BAFTA Awards na categoria de Melhor Filme e Melhor Atriz (Shirley MacLaine).

Pablo Aluísio 

quinta-feira, 1 de maio de 2025

Uma Rua Chamada Pecado

Passados mais de sessenta anos, o longa "Uma Rua Chamada Pecado" (A Streetcar Named Desire - 1951) ainda mantém no ar e intactos, alguns dos sentimentos mais básicos e primários do Homem: sexo, violência e desejo. Mesmo na época de seu lançamento, e a pedido da Warner - que se via pressionada pela censura - o filme sofreu cortes generosos, para desespero de seu diretor, Elia Kazan, que lutou até o fim para que sua obra-prima não sofresse os cortes já determinados pelos "abutres da censura". Não teve jeito, Kazan foi derrotado. Durante muitos anos (até 1993), o filme foi exibido e comercializado com cinco minutos a menos que faziam total diferença no conjunto da obra. No Brasil não foi diferente. O que poderia ser literalmente traduzido para o português, como: "Um Bonde Chamado Desejo", de repente transformou-se em, "Uma Rua Chamada Pecado". Ou seja: a censura não via com bons olhos a palavra DESEJO. Realmente inacreditável, além de lamentável.

Baseado na obra premiada do dramaturgo americano Thomas Lanier Williams ou simplesmente, Tennessee Williams, a obra trata de um redemoinho alucinante de sentimentos. Tudo começa quando Blanche Du Bois (Vivien Leigh), uma professorinha de alma delicada e decadente do Mississipi, vai passar alguns dias com sua irmã Stella (Kim Hunter), e o cunhado Stanley Kowalski (Marlon Brando) em Nova Orleans. Frágil e sedutora, seu comportamento contrasta com os modos rudes e animalescos de Kowalski. A visita de poucos dias parece não ter mais fim, pois o esforço de Blanche, forçando uma convivência pacífica, irrita profundamente Kowalski que aos poucos vai se transformando numa fera. O pequeno apartamento parece ficar menor a cada minuto, sufocante, claustrofóbico. Uma panela de pressão a ponto de explodir. É justamente toda essa atmosfera, que pôs Marlon Brando em evidência para o mundo. Mal ele podia imaginar que sua atuação como Stanley Kowalski, o tornaria uma espécie de marco fundamental. Um divisor de águas entre o cinema pré e pós Marlon Brando. Ou seja: o cinema, mas, principalmente, os atores que vieram posteriormente, não seriam mais os mesmos.

A influência dos chamados "monstros sagrados" do Actor's Studios, entraria como um vírus, para sempre em suas veias. Brando, na pele do animalesco Kowalski, consegue manifestar toda a sua capacidade interpretativa e criativa. Numa completa desambiguidade o organismo Brando-Kowalski é um corpo incandescente que se move lentamente, com olhos injetados de um animal, transpirando suor, ódio e testosterona, quase sempre na mesma medida. Em uma leitura personalíssima e explosiva da obra, Brando se entrega de corpo e alma a um personagem de maldade e furor acachapantes. Sua atuação majestosa é o que Roland Barthes chamava de "quantificação da qualidade" - "pouco interessa o que se fala, o que interessa mesmo é o suor, o grito, o medo e o ódio". Parece que Uma Rua Chamada Pecado foi feita na medida certa para transformar-se depois num réquiem eterno para o genial Marlon Brando. Nota 10.

Uma Rua Chamada Pecado (A Streetcar Named Desire, EUA, 1951) Direção: Elia Kazan / Roteiro: Oscar Saul baseado na peça de Tennessee Williams / Elenco: Vivien Leigh, Marlon Brando, Kim Hunter,Karl Malden / Sinopse: Blanche (Vivien Leigh) uma problemática mulher resolve ir visitar sua irmã Stella (Kim Hunter) em New Orleans. Lá conhece Stanley (Marlon Brando) o rude e provocativo cunhado. Não tarda a se instalar um clima de tensão entre todos os moradores daquele pequeno apartamento.

Telmo Vilela Jr.