sábado, 4 de outubro de 2025

Rodolfo Valentino - Parte II

Aqui vai um panorama sobre Rodolfo “Rudolph” Valentino — sua biografia, carreira, morte, repercussão e legado. 

Biografia

  • Nasceu com o nome Rodolfo Alfonso Raffaello Piero Filiberto Guglielmi di Valentina d’Antonguolla em 6 de maio de 1895, em Castellaneta, na região da Apúlia, Itália. (Wikipédia)

  • Sua mãe era Francesa (Marie Berthe Gabrielle Barbin) e o pai, Giovanni Antonio Giuseppe Fidele Guglielmi, veterinário, faleceu relativamente cedo, vítima de malária. (Wikipédia)

  • Emigrou para os Estados Unidos quando jovem (por volta de 1913). Nos primeiros anos trabalhou em diversos ofícios — jardineiro, lavador de pratos, dançarino de salão, figurante — até conseguir papéis maiores no cinema mudo em Hollywood. (Brasil Escola)

  • Seu estilo físico (beleza, porte, olhar marcado) e seu magnetismo pessoal ajudaram muito na construção de sua imagem de galã, “amante latino” no cinema, numa época em que o cinema era mudo, exigindo muito do expressivo visual e corporal. (Educação UOL)


Principais Filmes

Alguns dos filmes mais importantes na carreira de Valentino, que ajudaram a solidificar sua fama:

Filme Ano Importância / Destaques
The Four Horsemen of the Apocalypse (“Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse”) – 1921 1921 Foi um dos filmes que lhe deram projeção como estrela; uma cena de tango nesse filme ficou bastante famosa. (Brasil Escola)
The Sheik (“O Sheik”) 1921 Talvez seu papel mais emblemático, reforçou sua imagem de amante romântico – tornou-se parte do estereótipo com o qual Valentino será sempre associado. (Brasil Escola)
Blood and Sand (“Sangue e Areia”) 1922 Outro grande sucesso, reforçando sua capacidade dramática e seu apelo popular. (Educação UOL)
The Eagle (“A Águia”) 1925 Valentino produziu este filme, mostra algo do controle que já exercia em sua carreira e sua vontade de papéis com mais substância. (Educação UOL)
The Son of the Sheik (“O Filho do Sheik”) 1926 Último filme de Valentino; lançado depois de sua morte. Também importante por repetir o sucesso do primeiro Sheik. (Wikipedia)

A Morte: Detalhes e Repercussão

  • Valentino faleceu em 23 de agosto de 1926, em Nova Iorque, com apenas 31 anos. (Brasil Escola)

  • Causa: complicações relacionadas a uma úlcera gástrica que teria se perfurado, resultando em peritonite, juntamente com inflamação do apêndice. Houve cirurgia, mas não se recuperou. (Wikipedia)

  • Repercussão imediata: sua morte causou grande comoção. Fãs ficaram em estado de choque; houve histeria em massa. Multidões acompanharam o velório, o funeral. Algumas fontes falam de suicídios de admiradores. (Opera Mundi)

  • Estima-se que mais de 100 mil pessoas seguiram o caixão pelas ruas durante o funeral. (Opera Mundi)


Legado

  • Valentino foi um dos primeiros sex symbols do cinema — talvez o primeiro grande ícone masculino desse tipo no cinema americano e mundial. Sua imagem moldou expectativas de beleza masculina, romantismo e sedução. (Educação UOL)

  • Ele ajudou a criar e popularizar o estereótipo do “Latin Lover” em Hollywood — o homem sensual, exótico, misterioso, diferente do típico galã norte-americano. (Educação UOL)

  • Também foi importante como modelo de astro cinematográfico cuja fama extrapolava os filmes: moda, admiradores, cultura pop emergente, cobertura da imprensa, fenômenos de fã-clubes. (Wikipédia)

  • Seus filmes continuam sendo estudados como marcos do cinema mudo, tanto pela estética quanto pelo modo como construíram uma mitologia em torno da celebridade. (historiasdecinema.com)

  • Seu falecimento precoce contribuiu para mitificar sua figura: a morte jovem, inesperada, o faz parte da memória como alguém que morreu no auge, algo que alimenta fascínio e lenda. (Opera Mundi)


quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Rodolfo Valentino - Parte III

Aqui vai uma cronologia da vida, com detalhes pessoais, escândalos, relacionamentos e episódios menos conhecidos de Rudolph Valentino (Rodolfo Guglielmi).

Cronologia da Vida e Trajetória

Infância e juventude (1895 – início 1910)

  • Nasceu em 6 de maio de 1895 em Castellaneta, região da Apúlia, no sul da Itália, com o nome completo Rodolfo Alfonso Raffaello Pierre Filibert Guglielmi di Valentina d’Antonguolla. (Wikipedia)

  • Seu pai, Giovanni, era veterinário e morreu de malária quando Rodolfo tinha cerca de 11 anos. (Encyclopedia Britannica)

  • Sua mãe, Marie Berthe Barbin (de origem francesa), exerceu grande influência em sua criação. (Wikipédia)

  • Na juventude, teve dificuldades escolares; chegou a estudar ciências agrícolas. (Encyclopedia Britannica)

  • Em 1912, teria passado um período em Paris, mas voltou à Itália e, em 1913, emigrou para os Estados Unidos, instalando-se em Nova York. (Encyclopedia Britannica)

Primeiros anos nos EUA (1913 – ~1917)

  • Chegou a trabalhar como jardineiro e como lavador de pratos para sobreviver nos Estados Unidos. (Encyclopedia Britannica)

  • Também trabalhou como taxi dancer — isto é, dançarino de salão contratado para dançar com mulheres nos clubes por uma quantia paga por minuto ou por dança. (Encyclopedia Britannica)

  • Envolveu-se num episódio polêmico: testemunhou em um processo de divórcio de Blanca de Saulles contra seu marido John de Saulles, acusando-o de adultério, o que gerou reações adversas posteriores. (Encyclopedia Britannica)

  • Por causa desse episódio (e sua repercussão), ele se viu em apuros com autoridades, inclusive preso sob acusações ligadas a “vice” (imorais, culpabilidade social), embora as acusações tenham sido retiradas posteriormente. (Encyclopedia Britannica)

  • Em 1917, buscando recomeçar, ele se mudou para a Califórnia (Hollywood) para tentar a carreira cinematográfica. (Encyclopedia Britannica)

Ascensão no cinema mudo (1918 – início dos anos 1920)

  • Em Hollywood, usou o nome artístico Rudolph Valentino (uma versão “americanizada” de seu nome). (Wikipedia)

  • Inicialmente participou de papéis secundários, vilões, cenas menores — ainda não era estrela. (Encyclopedia Britannica)

  • Uma pessoa-chave em sua trajetória foi June Mathis, roteirista e figura influente em Hollywood. Ela apostou em Valentino para The Four Horsemen of the Apocalypse (1921), para o papel de Julio, um dos papéis decisivos que lançaram sua fama. (Encyclopedia Britannica)

  • Em The Four Horsemen of the Apocalypse, há uma famosa cena de tango que acentuou seu apelo romântico e exótico para o público. (Encyclopedia Britannica)

  • Ainda em 1921, estreou outro grande sucesso: The Sheik, em que interpreta um sheik árabe apaixonado por uma mulher ocidental — um papel que logo se associou à sua identidade artística. (Encyclopedia Britannica)

  • Em meados dos anos 1920, Valentino já era visto como um astro, ídolo entre o público feminino e alvo de críticas e polêmicas devido à sua imagem e estilo que fugia ao padrão rígido de masculinidade da época. (Encyclopedia Britannica)

Vida pessoal, casamentos e escândalos

  • Em 1919, casou-se com a atriz Jean Acker. Esse casamento teve contornos dramáticos: na noite de núpcias, Acker trancou-se no quarto, impedindo Valentino de entrar. O casamento nunca foi consumado de fato. (Wikipédia)

  • O casamento com Acker foi ultrapassado no papel legalmente só em 1921, quando finalmente se divorciaram. (Encyclopedia Britannica)

  • Posteriormente conheceu Natacha Rambova (nome de nascimento Winifred Shaughnessy), que trabalhava como figurinista e tinha ligações com o meio artístico de Hollywood. (Wikipédia)

  • Em 13 de maio de 1922, Valentino e Natacha se casaram no México — mas esse casamento teve controvérsias de bigamia porque seu divórcio de Jean Acker não havia sido oficialmente finalizado conforme exigências legais. (Wikipédia)

  • Devido às pressões legais, o casamento foi anulado, mas eles se casaram novamente em 1923. (Encyclopedia Britannica)

  • A relação entre Valentino e Rambova foi turbulenta. Ela era ambiciosa, controladora em termos de imagem, interferia em decisões artísticas e era bastante influente. Com o tempo, surgiram conflitos entre eles, inclusive com estúdios que não a permitiam participar das filmagens. (Encyclopedia Britannica)

  • O casamento com Rambova terminou em divórcio por volta de 1925. (Wikipédia)

  • Nos anos finais de sua vida, Valentino manteve relacionamentos com várias celebridades da época, como Pola Negri e outros nomes do meio artístico. (Encyclopedia Britannica)

Filmes e trajetória artística

  • Valentino fez muitos filmes durante sua carreira curta. Sua filmografia oficial reúne dezenas de títulos, dos quais alguns se tornaram clássicos do cinema mudo. (Wikipedia)

  • Destacam-se: The Four Horsemen of the Apocalypse (1921), The Sheik (1921), Blood and Sand (1922), The Eagle (1925), The Son of the Sheik (1926). (Wikipedia)

  • Alguns dos filmes menos lembrados, mas que fazem parte de sua produção: Monsieur Beaucaire (1924), A Sainted DevilThe Young Rajah, entre outros. (Encyclopedia Britannica)

  • Em The Son of the Sheik (lançado em 1926), Valentino reprisa o papel ligado ao universo do “Sheik” — esse foi seu último filme, lançado após sua morte. (Encyclopedia Britannica)

Doença, morte e despedida (1926)

  • Na segunda quinzena de agosto de 1926, Valentino adoeceu gravemente. Ele sofreu uma perfuração de úlcera estomacal, que evoluiu para peritonite. (IMDb)

  • Foi submetido a cirurgia, mas a infecção se alastrou. Ele faleceu em 23 de agosto de 1926, em Nova Iorque, aos 31 anos. (Encyclopedia Britannica)

  • Um dos registros diz que ele desmaiou no hotel em que estava, no dia 15 de agosto, já com dores intensas. (IMDb)

  • Sua morte causou comoção generalizada. Centenas de milhares de fãs foram às ruas para acompanhar o funeral, houve relatos de mulheres desmaiando, suicídios tentados, reações emotivas extremas. (Encyclopedia Britannica)

  • No funeral, estima-se que cerca de 80 mil pessoas acompanharam o cortejo em Nova Iorque. (IMDb)

  • O corpo foi levado em trem funerário até Los Angeles, e houve uma nova celebração de despedida lá. (IMDb)

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Filmografia de Charles Chaplin - Parte 1

Filmes de Charles Chaplin na década de 1910
Chaplin começou sua carreira no cinema na década de 1910. Até esse momento ele era um conhecido ator de teatro, em comédias pastelão. Ao chegar na Califórnia descobriu que havia uma nova forma de ganhar dinheiro como ator, fazendo filmes para os pequenos estúdios que começavam a aparecer em todos os lugares de Hollywood. Eia a lista dos primeiros filmes de Chaplin, puro cinema mudo, produzido na década de 1910.

1914: 
Corridas de Automóveis para Meninos
Carlitos no Hotel
Dia Chuvoso
Joãozinho na Película
Carlitos Dançarino
Carlitos entre o Bar e o Amor
O Marquês
Carlitos e a Patroa
Carlitos Banca o Tirano
Vinte Minutos de Amor
Carlitos no Cabaré
Carlitos na Chuva
Um Dia Ocupado
Carlitos e a Mala Fatal
Seu Amigo, o Bandido
O Maluco
Um Dia Cheio para Mabel
O Casamento de Mabel
O Pintor Apaixonado
A Recreação de Carlitos
O Mascarado
Carlitos, o Novo Profissional
Carlitos em Apuros
Carlitos, o Zelador
Carlitos e as dores do Amor
A Dinamite de Carlitos

1915:
Carlitos na Pré-História
Carlitos, o Campeão de Boxe
Carlitos no Parque
O Vagabundo
Carlitos no Banco
Um trabalho atrapalhado de Carlitos
Carlitos no Teatro
Um Carlitos no Burlesco
Carlitos e os Policiais
Carlitos no Armazem

1916:
Carlitos Bombeiro
Carlitos, o Vagabundo
Carlitos Boêmio
O Conde
A Loja de Penhores
Carlitos no Estúdio
Carlitos no Rinque

Pesquisa: Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

O Homem que Sabia Demais

Assisti a esse filme pela primeira vez há muitos anos. Ele foi lançado, ao lado de vários outros do diretor Alfred Hitchcock em uma coleção do selo CIC vídeo. É um dos mais conhecidos filmes do mestre do suspense, mas é justamente no suspense que esse filme tem suas maiores falhas. Os filmes de Hitchcock geralmente seguiam por uma linha mais forte, mais sombria até. Esse filme é bem mais leve. Inclusive a presença de Doris Day no elenco, com sua imagem doce e até inocente, destoa do tipo básico de produções que Hitchcock dirigia na época. Ela chega a cantar em cena um de seus sucessos, uma música romântica bem de acordo com a inocência daqueles anos. Nada mais fora da rota de um filme de Hitchcock que poderia se imaginar.

A história é até interessante, quando um casal de turistas no Marrocos (Norte da África) se envolve em uma trama de intriga internacional que nem eles sabem direito como surgiu ou quem estaria por trás de tudo. James Stewart segura bem as pontas. Ele foi um ator recorrente em clássicos do diretor, em especial "Um Corpo que Cai" e "Janela Indiscreta", mas aqui, em um roteiro mais convencional e dentro dos padrões moralistas da época, não se destaca tanto. No final das contas as lembranças que ficam desse filme é exatamente da cantoria de Doris Day. O que para um filme que deveria ser de suspense, não é lá grande coisa. Tudo muito pueril para um filme que deveria causar medo e apreensão no espectador.

O Homem que Sabia Demais (The Man Who Knew Too Much, Estados Unidos, 1954) Direção: Alfred Hitchcock / Roteiro: John Michael Hayes / Elenco: James Stewart, Doris Day, Brenda de Banzie / Sinopse: Casal de turistas dos Estados Unidos é atacado em suas férias no Marrocos. E sem nem entender direito as razões, se envolve em uma intriga internacional envolvendo países inimigos, em plena guerra fria.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

O Invencível

O Invencível
Kirk Douglas teve uma das filmografia mais longas e produtivas da história de Hollywood. São 92 filmes, onde o ator ao longo de cinco décadas de carreira, mostrou todo o seu talento, indo do drama à comédia, dos filmes de guerra aos filmes de western. Tudo realizado com grande talento e empenho profissional. Um de seus grandes filmes foi esse "O Invencível" de 1949, onde chegou inclusive a ser indicado ao Oscar de melhor ator. Muitos na época acreditavam que Kirk Douglas era o favorito ao prêmio, mas como em termos de Academia tudo pode acontecer, ele não levou a estatueta para casa. Claro, foi decepcionante para ele que apareceu na festa bem animado, mas não deu, Kirk não se tornou o escolhido daquela noite. Nesse filme Kirk Douglas interpretou um esportista conhecido como Midge, um sujeito de origem humilde que começa a subir na carreira de lutador de boxe. Conforme cresce e se torna uma figura importante no mundo esportivo, ele começa a esquecer todos aqueles que lhe ajudaram nessa longa caminhada. Abandona a mulher que fez tudo por ele e começa a ignorar parentes e amigos dos duros anos da pobreza. Como se vê é um personagem complicado de se interpretar, uma vez que na verdade se trata de um sujeito de caráter duvidoso, que acaba se deslumbrando com a sua própria fama e sucesso.

Para muitos especialistas na biografia de Kirk Douglas esse foi um dos filmes definitivos de sua carreira, pois o alçou para o estrelado. Não é para menos pois Kirk está completamente à vontade no papel do inescrupuloso Midge, uma pessoa que fica embriagada com seu próprio êxito nos ringues. O filme tem um clima noir dos mais marcantes, com belo uso da fotografia preto e branco, obviamente inspirado no cinema alemão da época. As cenas de lutas são extremamente bem editadas, o que valeu o Oscar de melhor montagem para o filme naquele ano. Até porque uma luta de boxe no cinema exigia emoção e nada melhor do que uma boa edição para realçar ainda mais esse aspecto.  

A atriz Marilyn Maxwell (grande amiga pessoal de outro astro da época, Rock Hudson) está perfeita no papel de Grace. Curiosamente o filme teria problemas anos depois no auge da chamada "Caça às Bruxas" pois o roteiro foi considerado o símbolo perfeito do sentimento subversivo que havia sido acusado o cinema americano daqueles anos. O roteirista Carl Foreman acabou sendo acusado de ser comunista e entrou para a lista negra. Bobagem paranoica, tipicamente da mentalidade débil mental do Macarthismo. Deixe tudo isso de lado, "O Invencível" é um perfeito retrato das mudanças de um homem que não conseguiu mais separar seu sucesso profissional de sua vida pessoal. Não se trata de uma ode à ideologia socialista. Assim fica a recomendação para os fãs do cinema noir da década de 1940, pois "Champion" é sem dúvida uma grande obra cinematográfica daquele período histórico do cinema americano.

O Invencível (Champion, Estados Unidos, 1949) Direção: Mark Robson / Roteiro: Carl Foreman, Ring Lardner / Elenco: Kirk Douglas, Marilyn Maxwell, Arthur Kennedy / Sinopse: Boxeador (Douglas) começa a colecionar vitórias nos ringues ao mesmo tempo em que começa a esquecer todos aqueles que o ajudaram a subir na carreira. O destino porém lhe reservará uma grande lição de vida. Filme vencedor do Oscar nas categorias de melhor edição (Harry Gerstad). Também indicado nas categorias de melhor ator (Kirk Douglas), melhor ator coadjuvante (Arthur Kennedy), melhor roteiro (Carl Foreman), melhor direção de fotografia em preto e branco (Franz Planer) e melhor música (Dimitri Tiomkin). Filme vencedor do Globo de Ouro na categoria de melhor direção de fotografia em preto e branco (Franz Planer).

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

As Cartas de Grace Kelly - Parte 2

As Cartas de Grace Kelly
Grace Kelly nasceu em uma família tradicional da Pennsylvania. Seus antepassados eram alemães que foram para os Estados Unidos em busca de oportunidades e se deram muito bem, se tornando profissionais bem sucedidos. A mãe de Grace era uma mulher muito elegante, fina e sofisticada que falava várias línguas. Ela era disciplinada, estudiosa, desportista e se formou em uma prestigiada universidade. Algum tempo depois se tornou professora nessa mesma instituição. O pai de Grace também era um homem bem sucedido no ramo de negócios. Toda a sua família era extremamente bem estruturada.

Grace era a filha do meio. Ela tinha duas irmãs mais velhas e um irmão mais jovem, o caçula. Por ser a irmã do meio ela não sofreu todas as pressões que as garotas mais velhas sofreram, mas tampouco foi tão mimada quanto o caçula da família. A mãe de Grace desejava que ela fosse para uma prestigiada universidade para estudar medicina. Para isso a matriculou em uma excelente escola católica dirigida por freiras onde apenas moças da alta sociedade estudavam. O ensino era realmente maravilhoso e assim Grace Kelly teve uma educação primorosa.

A mãe de Grace queria que sua família tivesse uma educação prussiana, tal como ela havia sido criada em sua infância e juventude. Isso significa disciplina, boa educação e bons modos. A família Kelly assim era uma das mais requintadas da  Philadelphia, muito bem conceituada dentro daquela sociedade. Todos as irmãs de Grace se tornaram pessoas influentes, bem sucedidas. O futuro parecia traçado por sua mãe, mas ela esqueceu de perguntar para Grace o que a filha queria fazer de sua vida. E Grace queria ser atriz, desde sua adolescência. Ela não queria ser uma médica, para passar o resto de sua vida em um hospital. Ela nem gostava de ambientes hospitalares!

O curioso é que havia artistas na tradicionalíssima família Kelly. A tia de Grace tinha tentando se tornar atriz em sua juventude. Ela até começou a dar certo em sua carreira, mas a pressão familiar falou mais alto e ela acabou largando seus sonhos. Largou a profissão de atriz, que era mal vista dentro do clã, e se casou com um rico homem de negócios. Acabou a vida frustrada, afundando as mágoas na bebida. Sobre ela Grace relembraria: "Pobre titia... Tão talentosa, mas havia nascido na época errada! Havia tanto preconceito contra artistas naqueles tempos!". A maior influência na vida de Grace porém vinha de um tio chamado Georgie. Ele não apenas sonhou em ser ator como se tornou um ótimo profissional de teatro e cinema, mesmo com todas as críticas e as constantes desaprovações dos demais familiares. Era considerado a ovelha negra da família Kelly, um sujeito com fama de ser uma pessoa exótica, sonhadora... Praticamente tudo o que Grace sonhava secretamente se tornar no futuro.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Torrentes de Ódio

Título no Brasil: Torrentes de Ódio
Título Original: Scudda Hoo! Scudda Hay!
Ano de Produção: 1948
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: F. Hugh Herbert
Roteiro: F. Hugh Herbert
Elenco: June Haver, Lon McCallister, Walter Brennan, Marilyn Monroe

Sinopse:
Um peão decide se organizar na vida, pois está apaixonado pela filha de seu patrão. Para mostrar que tem futuro resolve comprar um par de mulas para transporte, algo que lhe dará muita dor de cabeça depois, mas ele está decidido a dar certo para conquistar o amor de sua vida.

Comentários:
Outro filme do comecinho da carreira de Marilyn Monroe em que você terá que prestar muita atenção para encontrar a atriz em cena. Infelizmente a maior parte de sua participação foi parar no chão da sala de edição do estúdio mas ainda podemos ver a loira descendo as escadas de uma igreja no domingo pela manhã, acenando e dizendo sua única linha de diálogo no filme inteiro: "Oi Rad!" Por essa razão não é raro muitos jornalistas cometerem a burrice de dizer que essa foi a primeira aparição de Marilyn Monroe no cinema (como já comentamos em resenhas de filmes anteriores de Marilyn, esse tipo de afirmação simplesmente não procede). O elenco também traz outra curiosidade, a presença da também aspirante à fama Natalie Wood, que interpreta Eufraznee 'Bean' McGill (que nome hein?). Hoje em dia sua presença e a de Marilyn se tornaram os grandes atrativos do filme. No geral o filme não é lá grande coisa (como Marilyn ou sem ela). Se trata mesmo de uma diversão ligeira, um filme de rotina dentro da indústria de cinema dos anos 40. Não há qualquer sinal de que aquela garota quase figurante das escadas da capela um dia iria se tornar um mito da sétima arte. Vale como curiosidade histórica e apenas isso.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Viva Zapata!

Viva Zapata! 
Cinebiografia do revolucionário mexicano  Emiliano Zapata (1879 - 1919). Filho de uma família rica no México, Zapata liderou a nação na revolução mexicana de 1910 que tencionava devolver o poder ao povo daquele país. Com o descontentamento crescente da população com sua classe política e corrupta, Zapata de posse de uma retórica populista conseguiu formar um grande exército que lutou ao seu lado. Filmar a vida de Zapata era um velho projeto de Elia Kazan. Ele próprio era uma pessoa com uma visão de esquerda (que seria manchada após ser acusado de entregar seus amigos do Partido Comunista). Assim era natural que Kazan quisesse fazer o filme definitivo sobre o revolucionário. Não foi nada fácil. Poucos produtores tinham coragem de filmar a vida desse personagem histórico mexicano com receio de ser acusado de ser socialista, o que poderia transformar em um inferno a vida de qualquer um em Hollywood na década de 1950. Kazan porém não desistia fácil e realizou um belo filme.

"Viva Zapata" resistiu bem ao tempo, isso apesar de cometer alguns clichês em seu roteiro (fato que se pode perdoar porque afinal estamos falando de um filme que foi feito há mais de 60 anos). O Zapata de Marlon Brando é bem romantizado por isso, embora a caracterização do ator seja muito boa, mostrando um personagem bem verossímil e que ficou bem próximo da realidade: um homem de pouca cultura (era analfabeto), brutalizado e de poucas palavras, mas muita ação. Brando inclusive deixou crescer um enorme bigode ao estilo do verdadeiro Zapata, mas teve que aparar seu vasto bigodão por ordens do estúdio que o achou muito exagerado (o que poderia fazer a plateia rir dele, levando o filme ao ridículo). Mesmo sob protestos o bom senso prevaleceu e Brando fez o que foi determinado pelo estúdio. A atriz Jean Peters era fraca (só entrou no filme por influência de seu namorado, o milionário excêntrico Howard Hughes que literalmente a escalou no filme). Nas cenas mais dramáticas ao lado de Brando a situação fica um tanto constrangedora para o lado dela (que afinal só era uma starlet, bonita e nada mais). O filme também quase não saiu do papel. O produtor Zanuck não queria Brando para o papel e entrou com confronto direto com Kazan que não abria mão do ator. Zanuck ainda brigou com Kazan por causa da maquiagem "muito escura" que foi realizada em cima de Jean Peters. Como se vê ele era um produtor muito poderoso que procurava se meter em cada detalhe dos filmes que produzia o que irritava profundamente Kazan, sempre muito independente e cioso de seu trabalho.

Além disso o filme não pôde ser rodado no México por expressa proibição do governo daquele país que achou o roteiro "inaceitável". As filmagens então foram realizadas no Novo México, no Colorado e no Texas. As condições não eram as ideais e o custo de se "maquiar" essas localidades para parecerem o México inflaram o orçamento. Lá pelo meio do filme Brando também foi perdendo o interesse ao entender que "Viva Zapata!" faria várias concessões para se enquadrar no estilo de Hollywood. Mesmo com tantos problemas "Viva Zapata" resistiu e hoje em dia é considerado um clássico, sem a menor sombra de dúvidas. Além da direção de alto nível por parte de Kazan o filme acabou ganhando muito também com a presença de Anthony Quinn no papel do irmão de Zapata. Enfim é um dos mais interessantes filmes da carreira de Brando e Kazan, o que não é pouca coisa. "Viva Zapata!" assim se torna essencial para quem deseja conhecer a obra de Elias Kazan e Marlon Brando em sua plenitude criativa.

Viva Zapata! (Viva Zapata!, EUA, 1952) Direção: Elia Kazan / Roteiro: John Steinbeck / Elenco: Marlon Brando, Jean Peters, Anthony Quinn, Joseph Wiseman, Alan Reed / Sinopse: Cinebiografia do líder revolucionário Emiliano Zapata (Marlon Brando) que em 1910 promoveu uma grande revolução no Estado do México visando devolver o poder político ao povo daquele país, que estava cansado de sua classe política corrupta e inepta. Filme vencedor do Oscar nas categorias de melhor ator coadjuvante (Anthony Quinn). Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor ator (Marlon Brando), melhor roteiro (John Steinbeck), melhor direção de arte, melhor música (Alex North).

Pablo Aluísio. 


domingo, 31 de agosto de 2025

El Cid

El Cid segue sendo um grande filme épico medieval. Mais um ponto alto na carreira do ator Charlton Heston. Logo ele, um dos mais bem sucedidos atores de todos os tempos nesse estilo cinematográfico. Basta lembrar de clássicos absolutos como "Ben-Hur" e "Os Dez Mandamentos". De fato bastaria apenas esses dois filmes para colocar Heston entre os grandes nomes da era de ouro de Hollywood. Porém ele foi além, estrelando também outros grandes filmes. El Cid é certamente um dos melhores deles. É uma grande produção. O filme não economizou nos custos. Há uma infinidade de figurantes, batalhas épicas e exércitos. Na época nada disso poderia ser feito de forma digital como se faz hoje em dia, assim tudo o que se vê na tela é real e até hoje impressiona, principalmente na batalha final travada nas praias do castelo de Valença. O Produtor Samuel Bronston tinha fama de não economizar nos custos de seus filmes. Assistindo El Cid entendemos bem a razão dessa sua fama.

O filme conta a história desse personagem histórico ainda hoje muito conhecido, o guerreiro e cavaleiro El Cid, venerado em alguns países europeus como um dos grandes heróis da história. Essa visão é meio distorcida. O roteiro de El Cid segue esse erro pois é pouco correto do ponto de vista histórico. No filme o cavaleiro é visto como um homem de atitudes grandiosas, nobres. O fato porém é que El Cid era algo que hoje em dia poderia ser definido facilmente como mercenário, ou seja, após ser exilado ele colocava seu exército particular à disposição de quem lhe pagasse mais, sejam cristãos ou mouros. Outro fato que foge da realidade histórica se refere à própria morte de El Cid. No filme seu final vai de encontro ao famoso poema medieval que o enobrecia como símbolo de virtude. Na história real sua morte foi bem mais banal e comum pois faleceu em seu castelo e não em luta de forma heroica como mostrada no filme.

A direção do filme ficou em boas mãos. Anthony Mann dirigiu grandes filmes ao longo de sua carreira, inclusive "Winchester 73" (western com excelente elenco, contando com Rock Hudson e James Stewart), "A Queda do Império Romano". "Cimarron" entre outros. Definitivamente "El Cid" foi o filme mais caro que se envolveu. As filmagens ocorreram na Espanha e Itália com equipe estrangeira e não deve ter sido nada fácil organizar e dirigir uma produção desse nível. Mesmo assim o resultado grandioso ficou muito bom, embora se perceba vários "vácuos" no filme, isso apesar dele ter mais de três horas de duração. A impressão que tive foi que o diretor se perdeu um pouco no corte ideal para o filme, pois há sequências enormes e desnecessárias, como o longo romance entre os personagens do casal Heston e Loren. Já outros personagens importantes na história não mereceram a mesma atenção. Como diretor ele deveria ter feito um filme mais enxuto e focado na minha opinião.

Outros problemas podem ser encontrados ao longo do filme. O romance entre Charlton Heston e Sophia Loren, por exemplo, não decola no filme. Na minha opinião o problema é a falta de talento da bela atriz. Sophia Loren tinha exageros de caracterização, cacoetes que ela trazia do cinema italiano e isso nem sempre funcionava bem. Heston, por sua vez, repete suas atuações de personagens épicos, que são virtuosos e acima do bem e do mal. Os atores que interpretam os dois reis em conflito (na realidade eram quatro) são fracos, em especial John Fraser que interpreta o Rei Alfonso. Muito afetado, ficou mais parecendo uma versão medieval de Calígula. Mesmo assim, com esse pequenos problemas em detalhes, não há como negar as qualidades cinematográficas dessa obra.

El Cid (El Cid, Estados Unidos, Itália, 1962) Direção: Anthony Mann / Roteiro: Fredric M. Frank, Philip Yordan / Elenco: Charlton Heston, Sophia Loren, Raf Vallone / Sinopse: Épico que narra a história do guerreiro medieval El Cid que lutou contra as invasões mouras na Península Ibérica durante a alta idade média. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Direção de Arte, Melhor Trilha Sonora Original e Melhor Música (Miklós Rózsa). Indicado no Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme - Drama, Melhor Direção e Melhor Trilha Sonora Original (Miklós Rózsa).

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

As Sandálias do Pescador

As Sandálias do Pescador
O filme “As Sandálias do Pescador” foi baseado no best-seller de Morris L. West, um dos romancistas mais prestigiados do mundo. Em plena guerra fria, o enredo mesclava política e religião com muita maestria. A trama do filme era pura ficção, mas com nuances baseados em fatos históricos reais. No enredo o protagonista se chama Kiril Lakota (Anthony Quinn), Ele é um cardeal russo que acaba sendo libertado após muita pressão internacional contra o governo comunista da União Soviética. Exilado, ele volta ao Vaticano onde por uma ironia do destino acaba fazendo parte do conclave para a escolha do novo Papa. Como se não bastasse a surpresa de retornar a Roma nesse momento particularmente delicado, acaba ainda por cima sendo eleito o novo Papa pelos cardeais, que cansados das lutas internas dentro da cúria romana decidem eleger alguém de fora para assumir o poder máximo da Igreja Católica no mundo!

A história parece familiar para você? Pois é, incrivelmente parecida mesmo com a história do Papa João Paulo II, que também foi eleito após escapar do regime comunista na Polônia. Nesse ponto o autor Morris West foi incrivelmente perspicaz pois os eventos narrados em seu livro acabaram de certa forma se tornando reais dez anos depois com a escolha de Karol Wojtyla para o trono do pescador. É incrível pensar que ele havia previsto uma década antes que um novo Papa viria de um país dominado pelo comunismo. Era algo impensado na época, justamente por causa da guerra fria que parecia não ter fim. A eleição de um Papa proveniente de um país socialista seria algo não apenas inédito, mas também explosivo do ponto de vista da política internacional. Em meio a tensão, ter um Papa com essas origens iria deixar o cenário ainda mais turbulento e tenso entre Estados Unidos e União Soviética.

“As Sandálias do Pescador” é nitidamente dividido em dois atos. O primeiro que antecede a subida ao trono de São Pedro e o segundo que já mostra o protagonista como o novo Papa eleito. A produção é das mais ricas, com tudo sendo recriado a perfeição em seus menores detalhes. Todos os rituais, liturgias e cerimônias são refeitas com extremo rigor e fidelidade histórica. O elenco é fabuloso. Além de Anthony Quinn como o russo que vira Papa o filme ainda conta com as preciosas atuações de Laurence Olivier (como o premie soviético) e Vittorio de Sica como o Cardeal Rinaldi. Outro ponto positivo é a recriação das intrigas e conspirações palacianas, tão comuns em escolhas de Papas ao longo da história. Embora o filme decaia um pouco em seus momentos finais, o fato é que “As Sandálias do Pescador” é um marco do cinema da década de 60. Uma produção de encher os olhos com um elenco realmente maravilhoso. Em tempos de conclaves, eleições de Papas e tudo mais “As Sandálias do Pescador” se torna ainda mais interessante. Assistindo ao filme você irá perceber que pouco coisa mudou em todos esses anos. Os corredores do Vaticano e seus segredos milenares continuam os mesmos, seja na ficção ou na vida real. São dois mil anos de uma fonte inesgotável de história. 

As Sandálias do Pescador (The Shoes of the Fisherman, Estados Unidos, Itália, 1968) Direção: Michael Anderson / Roteiro: John Patrick, James Kennaway baseados no livro de Morris West / Elenco: Anthony Quinn, Laurence Olivier, Oskar Werner, Vittorio de Sica / Sinopse: Após escapar do regime brutal soviético um cardeal russo (Anthony Quinn) acaba sendo eleito o novo Papa com o nome de Kiril I. Filme indicado ao Oscar nas categorias de de melhor Trilha Sonora original e melhor Direção de Arte.

Pablo Aluísio.